sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Assunção: Maria na glória do Céu

João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj)
Teólogo e Comunicador



Tenho um carinho todo especial pelo dogma da Assunção de Maria. Minha mãe nasceu na vigília desta solenidade litúrgica, no dia 14 de agosto. Se nome é Maria da Glória. Quando entrei para o seminário, em plena adolescência, um dos padres nos dizia com piedade que Maria é como a mãe da gente lá em casa: silenciosa, humilde e servidora. Certamente ele descrevia a sua própria mãe, mas isso não tinha nada a ver com aquela professora, catequista e líder falante, cheia de iniciativa que Deus me presenteou como mãe. Aos poucos fui descobrindo que Pe. Zezinho tem toda razão quando nos ensina a cantar: “em cada mulher que a terra criou, um traço de Deus Maria deixou…” Maria é simples e humilde, silenciosa e serviçal, mas é também uma mulher cheia de questionamentos e iniciativas. Não seria qualquer jovem que após receber a notícia de que seria a Mãe de Deus, sairia de casa enfrentando 120 quilômetros de montanhas e perigos para ajudar sua prima Isabel que já estava gravida há seis meses.

Maria assumiu a proposta de Deus se fazendo serva do Senhor e dos irmãos. Por isso foi assumida de corpo e alma no céu. Assunção pode ser traduzida como “elevação” mas também como “ser assumida”. Quando escrevi a última estrofe do disco “Os Mistérios do Terço” procurei traduzir esta verdade com o seguinte verso: “E no quinto mistério coroada é Maria, que foi serva e por isso é rainha”.

Há quem pense que este dogma não tem muitos fundamentos nas páginas da Bíblia. Mas se pensarmos a “assunção” como “elevação” torna-se cheio de sentido o verso do Magnificat que canta: “Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,52). É mais do que uma cena cinematográfica de uma mulher sendo elevada acima das nuvens. É um jeito bonito de pensar que aquela que foi fiel a missão de Nazaré até ao pé da cruz, permaneceu unida ao seu filho na hora da luz, ou seja, da ressurreição e da ascensão. O fim de sua vida terrena foi uma serena passagem que os primeiros cristãos de “dormição”, ou “trânsito”. A primeira cristã também foi a primeira assumida eternamente no coração de Deus.

No dia 1º de novembro de 1950, por meio da Bula Munificenticimus Deus, o papa Pio XII declarou que esta verdade é um consenso natural entre nós, ou seja, um dogma: “[…] pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”.

São João Paulo II disse em uma de suas catequeses em julho de 1997: “A Assunção constitui o ponto de chegada da luta que empenhou o amor generoso de Maria na redenção da humanidade e é fruto da sua singular participação na vitória da Cruz.” Recentemente o Papa Francisco publicou uma encíclica social sobre o cuidado da terra: Laudato si’. Nela existe um parágrafo que faz referência à Maria, evocando a sua assunção: “Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza. Maria não só conserva no seu coração toda a vida de Jesus, que ‘guardava’ cuidadosamente (cf. Lc 2,51), mas agora compreende também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-Lhe que nos ajude a contemplar este mundo com um olhar mais sapiente.” (Nº 241) Olhar para Maria na Glória do céu nos ajuda a fortalecer a esperança enquanto caminhamos e cantamos na história, entre dores e amores, luzes e cruzes… Nossa mãe chegou lá e abriu a porta do céu e nos aguarda para que também sejamos elevados e assumidos na glória!

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