Quando todos se debatiam entre mil e um laços que os prendiam a toda sorte de pequenos senhores na terra, veio esse filho fugido de casa dos pais, para entregar-se ao Pai supremo, sem nome e sem instrução, mostrar que a suprema felicidade estava em sacudir o peso de todos esses pequenos barões terrenos, para se submeter a um só Príncipe invisível. No meio de uma vida em que se perdera a memória das coisas simples, veio mostrar o sabor de todas as verdadeiras essências imortais, a luz, o fogo, a água, o ar, o som, a palavra. No meio de uma sociedade áspera no ganho, veio mostrar a delícia de não possuir.No meio do furar de todas as violências, veio mostrar o milagre da paz e da fraternidade. No meio de uma era complicada, racionadora, cheia de hierarquias e preconceitos, veio mostrar a originalidade das coisas simples. Contra os raciocínios intermináveis, mostrou a eloqüência das soluções intuitivas. Contra as rígidas hierarquias, a igualdade no bem e na pureza da alma.Contra os preconceitos, a coragem de agir desassombradamente, por uma causa mais alta que todos os mesquinhos interesses terrenos. Esse, talvez, o maior segredo de São Francisco de Assis. Onde outros deram ou dariam o seu saber, a sua astúcia, a sua coragem, ele deu apenas isso: o seu coração. Esse isso revolucionou a História.
Publicado originalmente no Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1981.
Extraído de: PICCOLO, Frei Agostinho Salvador, OFM. Perfil do educador franciscano. Bragança: EDUSF, 1998. P. 89-91.
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