terça-feira, 29 de março de 2016

Imagens da Semana Santa

Missa da Unidade na Catedral - Padre Flávio no Óleo da Esperança
Missa da Unidade
Missa da Ceia do Senhor - Pequenos Discípulos






Sexta-feira Santa - Adoração da Cruz

Vigília Pascal - Bênção do Fogo Novo
Comunidade São João Batista e São Marcelino - Via Sacra



Comunidade Nossa Senhora da Paz - Celebração da Ceia do Senhora


terça-feira, 22 de março de 2016

O Guia da Semana Santa

Fonte: Aleteia

No coração da nossa fé, pulsa o grande Mistério Pascal: a Paixão, a Morte, a Ressurreição e a Ascensão de Jesus Cristo. Toda a História da Salvação culmina nestes acontecimentos salvíficos – e se fundamenta neles. Esta é a semana em que o ministério público de Jesus chega ao ápice em seu sofrimento, morte e ressurreição.

Sugerimos que você imprima este texto e o leia todos os dias desta Semana Santa, caminhando ao lado de Jesus nos dias mais difíceis que Ele viveu nesta terra.

RECONSTITUIÇÃO

Alguns estudiosos negam que possamos reconstituir o dia-a-dia da última semana de Jesus devido às lacunas históricas e a episódios que não se encaixam numa cronologia perfeita. Além disso, São João propõe um cenário muito diferente (talvez como interpretação teológica) da Última Ceia e da relação entre ela e a Páscoa. A sequência de fatos que recapitulamos a seguir obedece basicamente aos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Se considerarmos as diferenças apenas no nível do detalhe e não como diferenças de fato, é um material que pode ser de grande ajuda espiritual para todos nós.

Convidamos você, portanto, a ler esta reconstituição como um cenário provável, mas não inquestionável, da última semana de Jesus. Participe das liturgias da Semana Santa em sua paróquia, celebrando-as na comunidade da Igreja e abrindo-se à experiência renovada da realidade central da nossa fé: nosso Senhor Ressuscitado está vivo no meio de nós!

DOMINGO DE RAMOS

A Semana Santa começou com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Na manhã do domingo, narrada pelos quatro evangelistas, a procissão de ramos em mãos nos transforma em parte daquela multidão que recebe Jesus como Rei. De acordo com Marcos, 11,11, Jesus voltou naquela mesma noite para Betânia, na periferia de Jerusalém. Talvez Ele tenha ficado com seus amigos Marta, Maria e Lázaro. É uma noite em que Jesus considera em seu coração os dias tão difíceis que o esperam.

SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA SANTA

De acordo com Mateus 21, Marcos 11 e Lucas 19, Jesus retorna a Jerusalém neste dia e, vendo as práticas comerciais vergonhosas realizadas na área do templo, reage com zelosa indignação, expulsando os vendilhões e denunciando que eles transformaram a casa de seu Pai num covil de ladrões. O evangelho de João registra ainda que Ele repreendeu a incredulidade das multidões. Marcos, em 11,19, escreve que Jesus voltou para Betânia também nesta noite. Oremos com Jesus, tão zeloso por nos purificar. Reflexão: ainda insistimos em transformar a religião em negócio?

TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA

Segundo Mateus, Marcos e Lucas, Jesus retorna mais uma vez a Jerusalém, onde é confrontado pelos dirigentes do templo quanto à Sua atitude do dia anterior. Eles questionam a autoridade de Jesus, que responde e ensina usando parábolas como a da vinha (cf. Mt 21,33-46) e a do banquete de casamento (cf. Mt 22,1). Há também o ensinamento sobre o pagamento dos impostos (cf. Mt 22,15) e a repreensão aos saduceus, que negam a ressurreição (cf. Mt 22,23). Jesus faz ainda a terrível profecia sobre a destruição de Jerusalém caso os seus habitantes não creiam nele, afirmando que não restará pedra sobre pedra (cf. Mt 24). Continuemos a rezar com Jesus e a ouvir atentamente os seus ensinamentos finais, pouco antes da Paixão.

QUARTA-FEIRA DA SEMANA SANTA

É neste dia que Judas conspira para entregar Jesus, recebendo em troca trinta moedas de prata (cf. Mt 26,14). Jesus provavelmente passou o dia em Betânia. À noite, Maria de Betânia o unge com um caro óleo perfumado. Judas objeta contra esse “desperdício”, mas Jesus o repreende e diz que Maria o ungiu para o seu sepultamento (cf. Mt 26,6). Os ímpios conspiram contra Jesus. Reforcemos a nossa oração em união com Ele. Reflexão: de que forma nos prestamos a apoiar, mesmo sem querer diretamente, aqueles que conspiram contra Jesus?

QUINTA-FEIRA SANTA

Começa o Tríduo Pascal, os três dias que culminarão na Ressurreição de Jesus. O Cristo instrui seus discípulos a se prepararem para a Última Ceia. Durante o dia, eles fazem os preparativos (cf. Mt 26,17). Na Missa da Ceia do Senhor que celebramos em nossas paróquias, recordamos e tornamos presente, neste dia, a Última Ceia que Jesus compartilhou com seus apóstolos. Estamos no andar superior, com Jesus e os doze, e fazemos o que eles fizeram. Por meio do ritual de lavar os pés (Jo 13, 1) de doze paroquianos, todos nós nos unimos no serviço de uns aos outros. Por meio da celebração desta primeira Missa e da instituição da Sagrada Eucaristia (Mt 26,26), unimo-nos a Jesus e recebemos o Seu Corpo e o Seu Sangue como se fosse a primeira vez. Nesta Eucaristia, damos especiais graças a Deus pelo dom do sacerdócio ministerial: foi nesta noite que Ele ordenou os seus doze apóstolos a “fazerem isto em memória de mim”. Após a Última Ceia, que foi a Primeira Missa, os apóstolos e Jesus se dirigem pelo Vale do Cedron até o Horto das Oliveiras, onde o Cristo lhes pede que orem e vigiem, enquanto Ele experimenta a sua agonia (cf. Mt 26,30). Nós também iremos em procissão, com Jesus vivo no Santíssimo Sacramento, até o altar de repouso, previamente preparado na paróquia, e que representa o Horto. A liturgia de hoje termina em silêncio. É antigo o costume de passar uma hora em adoração diante do Santíssimo Sacramento nesta noite. Permanecemos, assim, ao lado de Jesus no Horto das Oliveiras e oramos enquanto Ele enfrenta a sua terrível agonia. Perto da meia-noite, Jesus será traído por Judas. O Cristo será preso e levado para a casa do sumo sacerdote (cf. Mt 26,47).

SEXTA-FEIRA SANTA

Durante toda a noite, Jesus fica trancado no calabouço da casa do sumo sacerdote. Pela manhã, Ele é levado até a presença de Pilatos, o governador romano, que repassa o caso para o rei Herodes. Herodes o manda de volta para Pilatos, que, em algum momento no meio da manhã, cede à pressão das autoridades do templo e das multidões e condena Jesus à morte cruel por crucificação. No final da manhã, Jesus é levado pelos soldados através da cidade até a colina do Gólgota. Ali, ao meio-dia, Ele é pregado à cruz e agoniza durante cerca de três horas. Por volta das três da tarde, Jesus entrega o Espírito ao Pai e morre. Descido da cruz, é colocado apressadamente no sepulcro antes do anoitecer. Este é um dia de oração, jejum e abstinência. Sempre que possível, os cristãos são chamados a se abster do trabalho, de compromissos sociais e de entretenimento, a fim de se dedicarem à oração e à adoração em comunidade. De manhã ou ao meio-dia, muitas paróquias realizam a última via-crúcis e uma palestra espiritual sobre as sete palavras finais de Jesus. Outras paróquias oferecem a via-crúcis e as “Sete Palavras” às 3h da tarde, no momento da morte de Jesus. À tarde ou à noite, nos reunimos silenciosamente em nossas igrejas para refletir sobre a morte de Jesus na cruz e rezar pelas necessidades do mundo. Também veneramos a redenção de Cristo na cruz com um beijo sobre o crucifixo. Nossa fome, neste dia de jejum, é satisfeita com a Sagrada Comunhão, consagrada na véspera e distribuída no final desta liturgia. Refletimos também sobre os apóstolos, que podem ter se reunido com medo na noite anterior e refletido sobre tudo o que havia acontecido.

SÁBADO SANTO

O corpo de Jesus está no sepulcro, mas a sua alma, entre os mortos, anuncia o Reino dos Céus. Chega a hora em que os mortos ouvem a voz do Filho de Deus – e os que a ouvem viverão (Jo 5,25). Enquanto isso, desolados com a morte de Jesus, os discípulos observam o sábado judaico imersos na tristeza. Eles se esqueceram da promessa de Jesus. Mas nós não podemos nos esquecer! Não podemos esquecer! Nesta noite, depois do pôr-do-sol, nós nos reuniremos em nossas paróquias para a Grande Vigília Pascal, durante a qual experimentaremos o Jesus ressuscitado dos mortos! Começaremos o nosso encontro na escuridão e acenderemos o fogo da Páscoa, que nos lembra que Jesus é a Luz que brilha nas trevas. Jesus é a Luz do mundo. Entraremos na igreja e ouviremos atentamente os relatos da Bíblia que descrevem a obra salvadora de Deus nos tempos passados. É então que, de repente, as luzes da igreja são acesas e é cantado o Glória jubiloso com o qual celebramos o momento da Ressurreição de Cristo! Jesus Cristo vive! Na alegria da Ressurreição, celebramos então os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia para os nossos catecúmenos e para os candidatos que se prepararam durante muitas semanas até a chegada desta noite. Como Igreja, cantamos o Aleluia pela primeira vez em longos quarenta dias. Faça tudo que estiver ao seu alcance para estar presente nesta noite na Vigília Pascal e convide também os seus amigos e a sua família. A Ressurreição de Cristo é o centro da nossa fé: é o momento mais importante de toda a História da Salvação! A nossa vigília culmina em uma alegria pascal que nunca mais terá fim!

Mark Zuckerberg dá boas vindas ao Papa no Instagram

Mark Zuckerberg deu boas-vindas ao Papa Francisco no Instagram. Em sua mensagem, Zuckerberg afirma que, independente da crença religiosa de cada pessoa, todos devem se sentir inspirados pelo exemplo de humildade e compaixão do Papa Francisco. Ele diz ainda que quer continuar compartilhando ao mundo a mensagem de misericórdia, igualdade e justiça do Papa Francisco.
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domingo, 20 de março de 2016

Papa Francisco no Domingo de Ramos

Fonte: ACI Digital
Na homilia deste Domingo de Ramos, o Papa Francisco ofereceu um conselho para seguir o caminho de Jesus: a humildade e a renúncia ao egoísmo, ao poder e à fama.



“O caminho do serviço, da doação, do esquecimento de nós próprios. Podemos encaminhar-nos por esta estrada, detendo-nos nestes dias a contemplar o Crucificado: é ‘a cátedra de Deus’, para aprender o amor humilde, que salva e dá a vida, para renunciar ao egoísmo, à busca do poder e da fama”.

“Com a sua humilhação, Jesus convida-nos a caminhar por esta estrada. Fixemos o olhar n’Ele, peçamos a graça de compreender pelo menos algo da sua aniquilação por nós; e assim, em silêncio, contemplemos o mistério desta Semana”, concluiu o Papa.

No início de sua homilia, o Papa disse que “fizemos nosso aquele entusiasmo: agitando ramos de palmeira e de oliveira, exprimimos o nosso louvor e alegria e o desejo de receber Jesus que vem a nós”.

“como entrou em Jerusalém, assim deseja entrar nas nossas cidades e nas nossas vidas. Como fez no Evangelho – montando um jumentinho –, Ele vem a nós humildemente, mas vem ‘em nome do Senhor’: com a força do seu amor divino, perdoa os nossos pecados e reconcilia-nos com o Pai e com nós mesmos”. 

Francisco assegurou, naquela ocasião “nada poderia deter o entusiasmo pela entrada de Jesus” e pediu que “nada nos impeça de encontrar n’Ele a fonte da nossa alegria, a verdadeira alegria, que permanece e dá a paz; pois só Jesus nos salva das amarras do pecado, da morte, do medo e da tristeza”.

“Entretanto a Liturgia de hoje ensina-nos que o Senhor não nos salvou com uma entrada triunfal nem por meio de milagres prestigiosos”, assinalou a seguir.

Por sua vez, Francisco recordou que “Jesus aniquilou-Se a Si mesmo: renunciou à glória de Filho de Deus e tornou-Se Filho do homem, solidarizando-Se em tudo conosco – que somos pecadores – Ele que é sem pecado. E não só… Viveu entre nós numa ‘condição de servo’”.

Então, Ele nos mostrou, “com o exemplo, que temos necessidade de ser alcançados pelo seu amor, que se inclina sobre nós; não podemos prescindir dele, não podemos amar, sem antes nos deixarmos amar por Ele, sem experimentar a sua ternura surpreendente e sem aceitar que o verdadeiro amor consiste no serviço concreto”.

“Humilhado na alma com zombarias, insultos e escarros, sofre no corpo violências atrozes: as cacetadas, a flagelação e a coroa de espinhos tornam irreconhecível o seu aspeto. Sofre também a infâmia e a iníqua condenação das autoridades, religiosas e políticas: é feito pecado e reconhecido injusto”.

O Bispo de Roma também disse que Jesus “para ser solidário conosco em tudo, na cruz experimenta também o misterioso abandono do Pai”.

“Suspenso no patíbulo, além da zombaria, enfrenta ainda a última tentação: a provocação para descer da cruz, vencer o mal com a força e mostrar o rosto dum deus poderoso e invencível. Mas Jesus, precisamente aqui, no ápice da aniquilação, revela o verdadeiro rosto de Deus, que é misericórdia”.

Portanto, “se é abissal o mistério do mal, infinita é a realidade do Amor que o atravessou, chegando até ao sepulcro e à morada dos mortos, assumindo todo o nosso sofrimento para o redimir, levando luz às trevas, vida à morte, amor ao ódio”.

O Santo Padre também explicou que “Ele renunciou a si mesmo por nós” e exclamou: “Quanto nos custa renunciar a alguma coisa por Ele e pelos outros!”.

Por que variam as datas da Semana Santa

Fonte: ACI Digital
Cada ano as datas do Tríduo Pascal variam. Este ano o tempo de Páscoa começará no próximo 27 de março. No calendário da Igreja Semana Santa é uma nova data, sempre diferente no calendário: existe uma razão histórica para isso. São as fases da Lua que guiam o calendário da Igreja para as celebrações dos mistérios da Morte e Ressurreição de Cristo.


Duante a Semana Santa, os cristãos celebram a ressurreição de Cristo, a festa mais importante do calendário litúrgico. De fato, durante os três primeiros séculos da fé esta era a única festa que se celebrava. Não havia outros tempos litúrgicos nem outras solenidades.

A origem da data se deve ao fato que a morte de Cristo ocorreu ao redor da festa da Páscoa Judia. Os Evangelhos se referem a esta celebração na passagem bíblica da última ceia, em que Jesus se reúne com seus discípulos para celebrar esta festa na que os judeus recordavam a saída do Egito.

Os judeus, de acordo às suas normas, devem renovar cada ano esta celebração no dia 15 do mês de Nisan, que começa com a primeira lua nova da primavera.

Lua cheia

Com o passar do tempo e embora algumas regiões no mundo não aderissem, a Igreja começou a unificar a data da Páscoa. Desde o I Concilio Ecumênico da Nicéia no ano 325, a Semana Santa se celebra no primeiro domingo de lua cheia depois do equinócio primaveril (ao redor de 21 de março).

Assim, o domingo de Páscoa acontece em um parêntese de 35 dias, entre em 22 de março e em 25 de abril.

As datas de Páscoa se repetem em um período de 5.700.000 anos e nesse intervalo de tempo a data mais frequente é o 19 de abril. Na maioria das vezes a Semana Santa cai durante a primeira ou segunda semana de abril.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Para além de Spotlight

Equipe Christo Nihil Praeponere

Blog. Padre Paulo Ricardo

Foi durante a nona estação da Via Crucis que o então Cardeal Joseph Ratzinger proferiu aquele desabafo constrangedor. Ainda soam frescas em nossas memórias as suas lamentações: "Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele". Era a Semana Santa do ano de 2005, e o Papa João Paulo II havia pedido justamente ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé — o homem que, por vários anos, teve de lidar diretamente com os sacerdotes transgressores — a preparação dos textos meditativos da Paixão de Cristo. Na época, não havia como não relacionar as palavras do cardeal aos escândalos de pedofilia outrora descobertos.

Recentemente, a pedofilia voltou a aterrorizar os fiéis católicos do mundo todo, após a Academia de Cinema ter condecorado Spotlight com o Oscar de melhor filme do ano. Para quem não sabe, o filme trata da cobertura que o jornal americano Boston Globe fez acerca dos crimes sexuais do padre John Geoghan, e de como, ao longo de 36 anos, esse mesmo sacerdote pôde circular tranquilamente por suas paróquias, graças à proteção do bispo. Quando o caso veio à tona, em 2002, uma série de outras denúncias surgiram, pelo que se descobriu a grande máfia que havia por de trás daqueles monstruosos abusos. Tratava-se, evidentemente, de um esquema diabólico de acordos e ameaças, que envolvia clérigos, advogados e familiares — um show de horrores.

É claro que escândalos como esses, que trazem a marca de um sacerdote, de um "homem de Deus", por assim dizer, chocam e minam a credibilidade da Igreja. Como continuar a professar o Creio depois de tantas demonstrações de fraqueza e malícia por parte do clero? Essa pergunta se impõe e exige uma tomada de posição. Embora se possa criticar um ponto ou outro de Spotlight, a verdade é que o filme não é nada anticatólico — no sentido de um panfleto contra a Igreja —, mas uma imagem assustadora de crimes reais praticados por padres e acobertados por quem estava mais preocupado com a estética do que com a dignidade das vítimas. Não se pode negar, fatos são fatos.

Outro fato, porém, é que a Igreja Católica, enquanto instituição divinamente fundada por Jesus, não pode ser confundida com os pecados de seus membros — ainda que estes façam parte da hierarquia e ocupem os cargos mais altos do clero — "nem é sua culpa se alguns de seus membros sofrem de chagas ou doenças", como recorda o Papa Pio XII [1]. Uma coisa é o Corpo Místico de Cristo, ao qual se deve toda veneração, outra bem diferente são as estruturas humanas que, por sua própria natureza, estão sujeitas ao erro. São Pedro apascentou as ovelhas de Cristo durante longos anos, mas isso não o impediu de negar Jesus por três vezes. Judas era um dos doze apóstolos — era uma das colunas —, e mesmo assim a sua traição levou o Filho de Deus para o sacrifício na cruz. Vemos, portanto, que os escândalos clericais existem desde o início do cristianismo, desde o momento em que Jesus decretou que Simão seria a rocha da Igreja, para depois repreendê-lo e chamá-lo de "pedra de tropeço" por deixar-se levar por insinuações diabólicas.

Aliás, longe de manifestarem qualquer deficiência da Igreja, esses escândalos reforçam o caráter infalível e perpétuo dela, como continuação da Encarnação de Cristo na história, necessária à salvação, uma vez que nenhuma outra instituição no mundo sobreviveria por tantos anos, tendo à sua testa homens tão débeis, a não ser que fosse pela graça divina. É por isso que, na contramão daqueles bispos e sacerdotes que, temendo prejudicarem a própria imagem, optaram por acobertar esses crimes ao invés de denunciá-los, os grandes santos e pastores da Igreja nunca silenciaram acerca da má conduta de padres e religiosos; antes, fizeram ecoar aos quatro cantos da terra o horror que era para Deus e para o mundo a podridão dentro do ministério sagrado, quando exercido por homens vaidosos e dissimulados.

No século XI, período em que a Igreja sofria terrivelmente com a má disciplina dos sacerdotes, São Pedro Damião fez-se ouvir pelo papa Leão IX com o que poderíamos considerar o Spotlight da época. No Liber Gomorrhianus (Livro de Gomorra), o doutor da Igreja escreveu abertamente sobre as imoralidades dos clérigos da época, inclusive sobre abusos contra menores, exortando o Santo Padre a tomar providências urgentes contra aqueles crimes. Como projeto de reforma, o santo não propunha apenas mudanças estruturais e burocráticas — apesar de serem necessárias, é verdade —, mas, principalmente, a busca pela santidade através da fidelidade às virtudes cristãs, como castidade, oração, penitência etc. Em suma, o caminho de reforma proposto por São Pedro Damião era nada mais que o velho mas sempre eficaz caminho da mística e da ascese, infelizmente abandonado nos dias de hoje, pelo que podemos compreender os motivos da nova crise.

Talvez seja possível dizer que o erro de Spotlight, bem como de toda a crítica secular, é que ela não abraça a totalidade da situação e acaba por omitir o mais importante remédio para o problema. É fora de dúvida que a Igreja deve oferecer uma resposta concreta a cada caso de abuso sexual, punindo exemplarmente tanto pedófilos quanto acobertadores, e procurando reparar, na medida do possível, as chagas que foram abertas por seus crimes. Toda essa sujeira, no entanto, encarada com olhar sobrenatural, indica uma "crise de santos" [2]. Quando se perde a dimensão da busca pela santidade, seja entre progressistas, seja entre conservadores, o resultado só pode ser o escândalo e a corrupção a níveis desastrosos, sobretudo no meio clerical. Bem disse Bento XVI que, entre os fatores que contribuíram para a crise, estava "a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adotar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho" [3]. Sem o desejo sincero de conformar-se a Jesus, nada pode assegurar uma vocação.

A Igreja, por sua vez, brilha e segue sua caminhada por esta terra, sabendo que "não são as maiorias ocasionais que se formam (...) que decidem o seu e o nosso caminho". Pelo contrário, os santos "são a verdadeira maioria determinante segundo a qual nos orientamos", pois "eles são os nossos mestres de humanidade, que não nos abandonam nem na dor e na solidão e na hora da morte caminham ao nosso lado" [4]. Por isso, ainda podemos crer com a Igreja e sentirmo-nos seguros dentro desta barca, que apesar de agitada pela tempestade, navega firmemente até o seu destino final.

Como rezou o Cardeal Ratzinger durante a Via Crucis de 2005, rezemos também nós: "Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Mas Vós Vos erguereis. Vós Vos levantastes, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós."

Igreja: três anos com Francisco

Fonte: Agência Ecclesia

O Papa do Sul do mundo trouxe preocupações específicas para a reforma da Igreja e a transformação da sociedade global

A Igreja Católica assinala neste domingo o terceiro aniversário da eleição de Jorge Mario Bergoglio como Papa, um pontificado que nos últimos meses conheceu momentos como o Sínodo sobre a Família ou a encíclica ‘Laudato si’.

As viagens internacionais e a convocação de um Jubileu extraordinário da Misericórdia foram outros pontos de destaque, a que se somaram o encontro histórico com o patriarca ortodoxo de Moscovo e a visita à sede da ONU, em Nova Iorque.

Francisco tem proposto uma mudança do paradigma econômico e financeiro internacional, como tinha deixado bem vincado na exortação ‘Evangelii Gaudium’ ou no seu discurso em Estrasburgo, perante o Parlamento Europeu, em defesa da democracia face ao poder dos mercados.

Com a encíclica 'Laudato si', Francisco abriu as fronteiras do seu discurso e colocou a Igreja Católica na liderança do movimento mundial para a defesa do ambiente, congregando à sua volta apoios das mais diversas proveniências.

O Papa tem estado próximo dos mais pobres e excluídos, na defesa de uma globalização mais plural, que respeite a identidade de todos e os excluídos, um discurso marcado pela vivência no Sul do mundo.

O primeiro pontífice da América Latina tem mostrado preocupação com a situação do Velho Continente, desejando uma ‘refundação da Europa', particularmente necessária perante as crises de refugiados e do terrorismo internacional.

O Papa tem repetido mensagens em favor da paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos, assumindo a defesa dos cristãos no Médio Oriente, perseguidos pelo autoproclamado ‘Estado Islâmico’, e criticando quem justifica ataques terroristas com as suas convicções religiosas.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito; assumiu o inédito nome de Francisco e é o primeiro pontífice jesuíta na história da Igreja.

Em 36 meses, o Papa argentino visitou o Brasil, Jordânia, Israel, Palestina, Coreia do Sul, Turquia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba e Estados Unidos da América, Quénia, Uganda, República Centro-Africana, e o México, bem como as cidades de Estrasburgo (França), onde passou pelo Parlamento Europeu e o Conselho da Europa, Tirana (Albânia) e Sarajevo (Bósnia-Herzegovina).

Realizou também dez viagens na Itália, incluindo passagens por Assis e pela ilha de Lampedusa, bem como uma homenagem no centenário no início da I Guerra Mundial, para além de outras visitas a paróquias na Diocese de Roma.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas 'Laudato si', dedicada a questões ecológicas, e 'Lumen Fidei' (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, bem como a exortação apostólica 'Evangelii Gaudium' (A alegria do Evangelho).

O Papa promoveu um Sínodo sobre a Família, em duas sessões, com consultas alargadas às comunidades católicas, e deu início ao Jubileu da Misericórdia, terceiro ano santo extraordinário na história da Igreja Católica, 50 anos depois do encerramento do Concílio Vaticano II.

Francisco tem sublinhado a sua preocupação com as “periferias” geográficas e existenciais da humanidade, que exigem respostas da Igreja e da sociedade.

Internamente, tem promovido também a reforma dos organismos centrais da Igreja Católica, em particular a estrutura de coordenação para as atividades econômicas e administrativas.

O Papa criou um Conselho de Cardeais, para o aconselhar no governo da Igreja e na revisão da Constituição Apostólica ‘Pastor Bonus’, sobre a Cúria Romana; o grupo com cardeais dos cinco continentes propôs a criação de uma comissão específica para os casos de abusos sexuais, à qual Francisco deu luz verde.

Os primeiros anos de pontificado são analisados na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, com uma entrevista a Adriano Moreira e um dossier que inclui ainda textos de vaticanistas internacionais e testemunhos de vários bispos e outros portugueses que tiveram oportunidade de contactar com Francisco.