Gabriel Chalita
Desde criança, sempre me impressionei com o sofrimento de Cristo nos episódios que antecederam sua morte. Pregaram na cruz o Pregador do Amor. Flagelaram o Homem que ensinou contra os flagelos impostos aos marginalizados do seu e de todos os tempos. Humilharam o Bem-aventurado que falou e viveu a humildade. Injustiças sempre causaram dor.
Lembro-me das procissões em minha cidade natal, dos cantos tristes, das encenações da paixão. Caminhávamos em silêncio, até o alto da cidade, revivendo a Via Sacra e imaginando como era Gólgota, lugar em que a Cruz foi fincada e o Homem Bom, crucificado. Depois, na Igreja, lembro-me de toda aquela gente passando para ver o Jesus morto. Queriam tocar na imagem sofrida. As beatas, atentas, ralhavam quando alguém apanhava uma pétala do caixão do Mestre. Eu ficava triste. Enchia minha mãe e meu pai de perguntas. Eles sugeriam que eu perguntasse ao padre. O padre sorria, ao me ver, e dizia: "Lá vem ele, indignado e perguntador”.
Eu queria entender por que Jesus precisava sofrer daquele jeito, entender por que os homens que o saudaram com festa, na chegada a Jerusalém, mudaram de opinião e quiseram vê-lo crucificado. O padre me dava algumas respostas, mas elas não me aquietavam. Nem naquela época nem hoje. Compreendo o sofrimento como parte da vida, mas não consigo compreender a perversidade. O que faz com que algumas pessoas se esforcem tanto para matar outras. Morte física ou moral. Dores no corpo e na alma. Pregos que penetram a pele e palavras que perfuram os sentimentos. Quem somos nós que fazemos repetir a paixão de Cristo em nossa história? Peço sempre a Deus que me livre de julgamentos apressados e de gestos incorretos contra meus irmãos. Não quero jamais perder o inconformismo que me incomodava tanto na infância. Nenhum homem pode ser tratado dessa maneira quanto mais o Filho de Deus. Que esses dias santos nos impulsionem a pensar nos sofrimentos que causamos aos outros. Sempre é tempo de mudar.
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