Fonte: Aleteia
O Papa que ficou em pé na frente de dois muros
Pe. Dwight Longenecke
No último domingo, durante a sua visita à Terra Santa, o papa Francisco mandou parar o papamóvel para fazer um momento não previsto de oração silenciosa aos pés do muro de concreto construído pelos israelenses na fronteira com o território palestino. Levantado para impedir os terroristas palestinos de entrar em Israel, o muro se tornou um símbolo da opressão que os palestinos sentem: denunciando-o como símbolo de apartheid, eles afirmam que o muro os torna prisioneiros na sua própria terra.
Uma semana depois que as negociações entre palestinos e israelenses fracassaram mais uma vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou a atenção do papa ao muro e culpou os palestinos de politizar a visita de Francisco. Netanyahu explicou que o muro é uma medida de segurança e convidou o papa a fazer uma visita semelhante a outro muro: um memorial às vítimas judaicas do terrorismo palestino. O papa aceitou e permaneceu em silêncio diante de mais uma parede, antes de visitar um segundo memorial às vítimas judaicas da opressão: o famoso Memorial do Holocausto Yad Vashem.
Dois muros. Dois povos divididos por uma animosidade que não se estende apenas pelos últimos cinquenta anos, desde que os judeus voltaram para Israel, mas por milênios. Quando lemos o Antigo Testamento, vemos que os inimigos históricos do povo judeu eram os filisteus, palavra que é simplesmente a versão mais antiga de “palestinos”. Os palestinos modernos são descendentes de uma grande variedade de povos antigos, e os filisteus, tais como os palestinos de hoje, eram o povo que habitava as terras da Palestina.
As batalhas entre palestinos e hebreus continuaram ao longo de milhares de anos. Será que existe maneira de quebrar este ciclo de recriminação, vingança e ódio? Existe maneira de resolver de forma pacífica a disputa no Oriente Médio?
Do ponto de vista humano, parece impossível. Mas a influência dos papas na política mundial é muitas vezes subestimada. O poder pacífico de João Paulo II ajudou a derrubar outro muro, em Berlim, e a descerrar a Cortina de Ferro. Será que o papa Francisco pode ser um dos protagonistas de um eventual processo de paz no Oriente Médio? Será que Francisco, com o nome do padroeiro dos promotores da paz, pode vislumbrar um novo caminho a ser seguido? O papa exortou os líderes da região a buscarem a paz: "Eu imploro àqueles que exercem cargos de responsabilidade a não deixarem pedra sobre pedra na busca de soluções justas para problemas complexos", disse ele. "O caminho do diálogo, da reconciliação e da paz deve ser constantemente retomado, com coragem e sem descanso".
Francisco convidou o líder palestino Mahmoud Abbas e o presidente de Israel, Shimon Peres, para um encontro de oração no Vaticano. Comentando sobre a situação na Terra Santa, o papa declarou: "Há necessidade de intensificar os esforços e as iniciativas para criar as condições de uma paz estável, baseada na justiça, no reconhecimento dos direitos de cada indivíduo e na segurança mútua". A paz "deve ser resolutamente buscada, mesmo que cada lado tenha de fazer certos sacrifícios".
Será que o papa pode fazer a diferença? No cenário mundial, há muito poucas figuras internacionais que mantêm credibilidade, que representam valores humanos e que evocam um chamamento superior. O papa parece ser respeitado por todos e pode usar a sua influência para levar as partes em conflito a discutir a paz. Boa vontade e esforço humano oferecem dois caminhos para se avançar rumo à paz, mas há um terceiro fator dominante, que os repórteres negligenciam. Esse fator é simbolizado pela visita de Francisco a um terceiro muro: o histórico Muro das Lamentações, em Jerusalém.
Levantado na base do Monte do Templo, ele é tudo o que resta do grande templo construído pela primeira vez pelo rei Salomão e reconstruído por Herodes, o Grande. As suas pedras hoje milenares já estavam de pé quando Jesus Cristo purificou o templo e foi julgado perante Pilatos naquele mesmo local. De uma perspectiva católica, é o lugar onde Cristo, o Príncipe da Paz, pagou o preço da paz.
O papa Francisco se alçou diante desse terceiro muro com seus dois amigos: um líder judeu e um líder muçulmano. Conforme o costume, ele inseriu no muro um pedaço de papel com uma oração: era a Oração do Senhor, em espanhol. Os três amigos mostraram juntos uma terceira via: diante do terceiro muro, eles mostraram o terceiro poder que pode superar as divisões e os conflitos e encaminhar, finalmente, a paz.
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