Se o apóstolo Paulo vivesse em nossos dias, trabalhasse numa Escola, como eu, ou numa empresa qualquer, fosse casado, tivesse mulher e filhos, enfrentasse a rotina diária do trabalho, do trânsito, dos sustos e medos das cidades e tempos em que vivemos, talvez escrevesse assim a sua Carta aos Coríntios...
Ainda que eu fale mais alto que todos em minha casa ou do meu setor de trabalho, ou use minha posição, cargo ou função para calar as outras vozes, se não tenho Amor, sou como uma sirene estridente ou uma campainha repetitiva e irritante, mas solitária e inútil...
Ainda que eu fosse capaz de prever e programar tudo, organizando e colocando sob meu controle cada detalhe da casa, do escritório, do programa a ser desenvolvido em sala de aula, do meu setor de trabalho, se não tenho Amor, nada disso adiantaria muita coisa...
Ainda que eu me sacrifique no trabalho, dedicando horas e horas de esforço para garantir mais conforto à minha família, ou para agradar meus superiores, mostrando minha competência, habilidades, batendo metas de produtividade, até com o risco de perder minha saúde, se não tenho Amor, sou pouco mais que nada...
O Amor é paciente... mesmo quando a rotina do cotidiano desgasta e exaspera, na monotonia dos erros repetitivos e comuns que acabamos, na convivência diária, conhecendo tão bem.
O Amor é prestativo... não só com aqueles a quem somos subordinados, com o cliente, ou com quem chega de fora, mas em especial com aqueles com quem convivemos no dia a dia mais banal.
O Amor não é invejoso... não transforma as relações em competição e a competição em mágoa ou rancor. Não se ostenta, nem se enche de orgulho, presunção e autossuficiência.
O Amor é generoso, cooperativo, solidário, encontrando alegrias improváveis no ato de servir ao invés de ser servido, nas situações e circunstâncias mais simples do cotidiano.
O Amor nada faz de inconveniente... nem procura apenas seu próprio interesse. Ele sabe que é parte de algo maior, se sente família, equipe, sendo capaz de, mais que viver, de con-viver.
O Amor percebe, acolhe, ouve e valoriza a presença e opinião do outro, respeita sua história, conhece seus limites, admira suas qualidades e as potencializa para o mais, para o melhor...
O Amor é gratuito, natural, espontâneo, de uma generosidade quase infantil, que deveria brotar, transbordar e se espalhar em cada gesto ou palavra. O egoísmo é que deveria nos causar surpresa e estranhamento.
O Amor não se irrita, não guarda rancor... e, talvez, tanto na vida familiar quanto no ambiente de trabalho, aí esteja o maior desafio para o Amor.
Mas, nas crises, nas dificuldades, Ele supera seus próprios limites e é capaz de amar mesmo quando é impossível gostar.
O Amor, então, se faz perdão... no mínimo, um querer bem que ultrapassa qualquer mágoa ou desejo de vingança, pois o Amor tudo desculpa... sem anotar nada “no caderninho” para cobrar depois...
O verdadeiro Amor, tanto em casa quanto no trabalho, se reveste de respeito, busca a Verdade, se alegra com a Justiça. E porque Verdade e Justiça geram confiança, o Amor tudo crê.
E como quem crê tem sempre esperança, o Amor, enquanto tudo espera, constrói ambientes de alegria em si e ao seu redor, pois uma de suas características é a capacidade de oferecer sempre, depois de cada lágrima, a possibilidade do abraço que acolhe, da palavra que consola, do gesto que restaura.
O Amor, enfim, tudo suporta... porque sabe que o insuportável mesmo é viver sem Amor.
Quando éramos crianças, pensávamos como crianças, agíamos como crianças, como crianças nos comportávamos. Bons tempos...
Então, veio a vida com suas exigências e cobranças, seus desafios, seus limites, sua rigidez e suas contradições, fazendo nascer em nosso coração a dúvida e a incerteza,
a insegurança e o temor.
Passamos a ver tudo como que por um espelho, de forma oblíqua, distorcida, ou como que através de uma vidraça embaçada.
Mas, um dia (que pode começar hoje), veremos face a face, conheceremos como nós mesmos somos conhecidos...
E então, quando esse tempo que não tem tempo chegar, tudo vai encontrar seu termo; o conhecimento, o poder dos cargos e dos currículos, a opressão do autoritarismo e da falta de amor, a frieza dos projetos e planejamentos distanciados da realidade, os diplomas e títulos dos quais nos orgulhamos tanto, quando tudo desaparecer, o que restará...?
Não se esqueçam, em nós, foi plantada uma semente de eternidade. Quem plantou foi o Amor. E só o Amor é e será capaz de preencher todos os espaços, superar todos os limites, abrir todas as possibilidades, aqui e agora, pois o Amor jamais passará. O que É não passa. O tempo do Amor é Agora e Sempre!
Em nós mora o Amor, em nosso coração, em nossas palavras e gestos, sonhos e desejos, clama o desejo de amar, pois somos imagem e semelhança do Amor que nos criou.
Aprofundando...
Meu irmão, minha irmã querida, pensando em suas relações pessoais, familiares, profissionais, que palavra, decisão ou gesto o Amor pede a você, nesse momento?
Texto de Eduardo Machado
Inspirado na Primeira Carta do Apóstolo Paulo
à Comunidade de Corinto – 1Cor 13,1-13
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