Fonte: Rádio Vaticano
A Praça de São Pedro continua a encher-se de multidões em todos os encontros presididos pelo Papa Francisco. O fenômeno não é novo, mas assume com o atual pontífice, como nos primeiros anos de João Paulo II, um clima especialmente intenso e vibrante. No caso de agora adverte-se o contraste entre a simplicidade do Papa e o seu evidente desejo de redimensionar o prestígio mundano e certa espetacularidade quase inevitavelmente associada à figura papal e um entusiasmo popular que corre o risco, como já vão dizendo alguns, de se configurar com uma forma renovada de papolatria. Como desde o primeiro momento, quando, há dois meses, a 13 de março, assomou à varanda central da basílica de São Pedro, é impressionante o à-vontade revelado pelo Papa Francisco perante as multidões, sem constrangimentos, mas também sem se preocupar com a imagem que de si mesmo possa dar.
Talvez o segredo esteja no que um jornalista italiano fazia notar há dias: este Papa não vê a multidão, mas cada uma das pessoas que a compõem. O que se adverte especialmente no momento em que Francisco, a bordo do jeep aberto, passa no meio dos fiéis. O seu olhar cruza-se com o das pessoas que o aclamam e detém-se a cada passo a beijar as crianças e a tocar e abençoar as pessoas mais sofredoras e deficientes. Não há celebração pública deste Papa que não conclua com um tempo prolongado (por vezes mais de um quarto de hora) reservado aos doentes e diminuídos, saudando-os de maneira personalizada e afetuosa, dando-lhes todo o tempo necessário, como se não tivesse mais nada que fazer.
Estes gestos de humanidade e atenção correspondem ao que o próprio Papa Francisco tem vindo a insistir, sobretudo quando se dirige aos padres ou aos consagrados. “Não tenhais medo nem vergonha de mostrar ternura com as pessoas de idade” – suplicou aos neo-ordenados, há poucas semanas. E domingo passado, exprimindo-se mais livremente na sua própria língua, em espanhol, na missa de canonizações, na Praça de São Pedro, ao referir-se à nova santa mexicana, a religiosa Guadalupe Zavala (1878-1963), “Madre Lupita”, Papa Francisco recordou que “ela se ajoelhava no chão do hospital, diante dos doentes e dos abandonados, para os servir com ternura e compaixão”, acrescentando, com especial vigor: “Isto chama-se tocar a carne de Cristo. Os pobres, os abandonados, os enfermos, os marginalizados, são a carne de Cristo. Madre Lupita tocava a carne de Cristo e ensinava-nos esta conduta: não nos envergonharmos, não termos medo, não termos repugnância da carne de Cristo”.
Evocando a outra latino-americana agora canonizada, madre Laura Montoya (1874-1949), primeira santa colombiana, o Papa insistiu sobre outro aspecto que lhe está a peito, aliás profundamente ligado ao acima referido: a fé não se pode viver isoladamente, como algo de privado; “o individualismo – advertiu – corrompe as comunidades, corrompe o nosso coração”. Há que “acolher a todos sem preconceitos, sem discriminações, sem reticências, com autêntico amor, dando-lhes o melhor de nós próprios e o que de mais precioso temos” E aqui Papa Francisco esclareceu: “O que de mais precioso nós temos, não são as nossas obras, as nossas organizações! Não! O que temos de mais precioso é Cristo e o seu Evangelho”.
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