Fonte: Rede Catedral
Um jornalista mexicano chamado Armando Fuentes Aguirre publicou recentemente uma deliciosa crônica na qual faz uma breve, simples e profunda reflexão sobre o que é ser rico. Li e reli a crônica e fiquei pensando na minha própria condição: afinal, sou um homem rico ou pobre?
Foi aí que me permiti ir reescrevendo o texto, misturando a experiência do escritor original com a minha própria experiência. Daí surgiu a história, que conto agora a vocês. Diz assim:
“Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", porque fui vítima de uma omissão inexplicável. Ela publicou em sua última edição, uma lista das pessoas mais ricas do mundo, e nesta lista eu não apareço. Aparecem o sultão de Brunei, Bil Gates, o dono da Microsoft, e aquele garoto que inventou o Facebook. Entre as celebridades, foram citados nomes como Lady Gaga e Justin Bieber, que mal saíram da adolescência e já são milionários famosos.
O mundo do futebol também compareceu com seus ricaços: o argentino Messi, o português Cristiano Ronaldo, o inglês David Beckham. Até um brasileiro, um tal de Neymar, começa a aparecer na lista dos endinheirados, mas eu não sou sequer mencionado pela revista. E eu sou um homem rico, imensamente rico.
Não acreditam? Pois vou provar a vocês.
Eu tenho vida, que recebi não sei porquê, e saúde, que conservo não sei como.
Tenho uma família adorável, cheia de qualidades e defeitos como todas as famílias. Eu a formei ao lado da minha esposa, com quem compartilho as alegrias e apreensões de ter filhos dos quais recebo, hoje, promessas de amanhã. No momento, aguardo a chegada dos netos, com os quais poderei praticar uma nova, serena e boa paternidade.
Eu tenho irmãos que são meus amigos, e amigos que são meus irmãos.
Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo com sinceridade, apesar dos seus defeitos.
Eu tenho uma casa, e nela muitos livros. Minha esposa diria que tenho muitos livros e, ao redor deles, uma casa.
Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, e que me recebe, todos os dias, como se eu fosse o dono do céu e da terra. Ele me acolhe como se não me visse a dez anos, mesmo que eu tenha saído por dez minutos para ir à padaria.
Eu tenho olhos que veem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos para acariciar, dar e receber. Meu cérebro pensa coisas que já, com certeza, muitos outros já pensaram, mas que para mim são uma permanente novidade.
Eu tenho uma riqueza que recebi gratuitamente, em herança, e que é comum a todos os seres humanos: a vida cotidiana para ser vivida a cada dia. Tenho disposição para apreciá-la, saboreá-la, vivê-la como um dom único, original e irrepetível.
Por não ser alienado, vejo também as mazelas do mundo. Presencio injustiças, mas não me calo diante delas. E tenho compaixão para me aproximar dos irmãos que sofrem algum tipo de perda ou dor. Finalmente, tenho o dom maior; fé em Deus, o que vale para mim mais que qualquer coisa, bem ou posse. Pois crer em Deus é crer num amor infinito, um amor tudo espera, tudo suporta, tudo crê, tudo pode. Um amor que nunca vai se acabar...
E então, pode haver riquezas maiores do que a minha? Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na lista dos homens mais ricos do planeta?
Ah, já sei, os critérios...
A revista é o espelho de um mundo que avalia as pessoas pelo que elas tem, e não pelo que são e sentem. Como disse o Pequeno Príncipe, de Exupéry, se eu disser que tenho uma casa com gerânios no jardim, muita gente não será capaz de imaginar a sua beleza. Mas se falar que a casa vale milhões de dólares, aí sim, terão noção do quanto ela vale.
E eu me pergunto; onde está a verdadeira beleza; na casa ou no coração das pessoas que moram nela...?
Pensando nisso, olhando a lista, me veio uma ponta de melancolia e pensei: há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa que possuem é... DINHEIRO.
E você... como se considera: você é rico ou pobre?
Eduardo Machado em adaptação livre de texto de Armando Fuentes Aguirre
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