A Igreja no Brasil, para enfrentar os grandes desafios à ação evangelizadora, percebe a necessidade de voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo. No contexto da Igreja, não há como empreender ações pastorais sem nos colocarmos diante de Jesus Cristo, em atitude de conversão.
A Campanha da Fraternidade, apresentada, desde 1964, na quaresma, intensifica o convite à conversão. Ela contribui incisivamente para que este processo ocorra e alargue o horizonte da vivência da fé, na medida em que traz, para a reflexão eclesial, temas de cunho social, portadores de sinais de morte, para suscitar ações transformadoras, segundo o Evangelho.
Nesse ano, o tema proposto é “Fraternidade e Saúde Pública”, com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). A saúde integral é o que mais se deseja. Há muito tempo, ela vem sendo considerada a principal preocupação e pauta reivindicatória da população brasileira, no campo das políticas públicas.
O SUS (Sistema Único de Saúde), inspirado em belos princípios como o da universalidade, cuja proposta é atender a todos, indiscriminadamente, deveria ser modelo para o mundo. No entanto, ele ainda não conseguiu ser implantado em sua totalidade e ainda não atende a contento, sobretudo os mais necessitados destes serviços.
Entendendo ser um anseio da população, especialmente da mais carente, um atendimento de saúde digno e de qualidade, a Campanha da Fraternidade 2012 aborda o tema da saúde, conforme os objetivos a seguir propostos.
Objetivo Geral
"Refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção dos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde" (p. 12 do Texto-Base).
Objetivos específicos
a) Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de hábitos de vida saudável;
b) Sensibilizar as pessoas para o serviço aos enfermos, o suprimento de suas necessidades e a integração na comunidade;
c) Alertar para a importância da organização da pastoral da Saúde nas comunidades: criar onde não existe, fortalecer onde está incipiente e dinamizá-la onde ela já existe;
d) Difundir dados sobre a realidade da saúde no Brasil e seus desafios, como sua estreita relação com os aspectos sócio-culturais de nossa sociedade;
e) despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação do seu justo financiamento;
f) Qualificar a comunidade para acompanhar as ações da gestão pública e exigir a aplicação dos recursos públicos com transparência, especialmente na saúde (cf. p. 12 do Texto-Base da CF).
O texto base é dividido em três partes e uma conclusão olhando para o futuro. A primeira parte é titulada "Fraternidade e a Saúde Pública" e oferece um panorama atual da Saúde no Brasil. Oferece-nos, também, algumas tabelas e quadros interessantes mostrando o melhoramento da taxa de mortalidade infantil nos últimos anos, o crescimento da população idosa, percentual de partos cesáreos, dados sobre obesidade, hipertensão arterial que atinge 44.7 milhões de pessoas, estimativas para várias formas de câncer e a evolução da freqüência de consumo abusivo de bebida alcoólico etc.
A segunda parte, intitulada "Que a Saúde se Difunda Sobre a Terra" aborda a doença no Antigo e Novo Testamento e Jesus curando os doentes. Diz o Evangelho: "Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo" (cf. Mt 4, 23). O texto apresenta a parábola do bom samaritano como paradigma do cuidado. Trata também da experiência humana da dor e do sofrimento e os enfermos no seio da Igreja. Há também uma referência à Unção dos Enfermos, o sacramento da cura.
A terceira parte oferece "Indicações para a Ação Transformadora no Mundo da Saúde". Analisa a importância da Pastoral da Saúde da Igreja e o papel dos agentes da mesma. Nesse mesmo contexto, aborda, ainda, a dignidade do viver e morrer. Trata, com clareza, de problemas como eutanásia, distanásia e ortotanásia. Além das propostas de ação da Igreja Católica na área de saúde, oferece também "Propostas Gerais para SUS".
Em sua conclusão, o texto-base nos mostra como, ao longo dos últimos anos, houve mudança no conceito de saúde: de 'caridade' para 'direito', e lamenta que esse direito esteja sendo "transformado em negócio" num mercado sem coração. E nesse contexto marcado pela escuridão de doenças e mortes evitáveis, a missão da Pastoral da Saúde é vital! Conclui, afirmando que, no âmbito da saúde, faz-se necessário aprofundar e colocar em prática a chamada "bioética dos 4 Ps": Promoção da saúde, Prevenção de doenças; Proteção das vulneráveis presas fáceis de manipulação e Precaução frente ao desenvolvimento biotecnológico. "É mais do que hora de garantir a todos os brasileiros o acesso 'universal, integral e equânime' aos cuidados necessários de saúde." (extraído do texto-base da Campanha da Fraternidade 2012)