segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Papa Francisco explica como é a sua vida de oração

ACI Digital
O Papa Francisco compartilhou numa recente entrevista como é a sua vida de oração cotidiana. Além da Missa e do Rosário diários, o Santo Padre contou que prefere a Adoração ao Santíssimo pelas tardes e explicou que para ele a oração é sempre "memoriosa".
Assim o indicou o Santo Padre na entrevista concedida ao sacerdote jesuíta italiano, Padre Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltá Cattolica, uma publicação que é revisada pela Secretaria de Estado do Vaticano.
O Papa contou que "rezo o Ofício (as orações próprias do clero em toda a Igreja para cada dia) todas as manhãs. Eu gosto de rezar com os Salmos. Depois, a seguir, celebro a Missa. Rezo o Rosário".
"O que verdadeiramente prefiro é a Adoração vespertina, mesmo quando me distraio e penso em outra coisa ou mesmo quando adormeço rezando. Assim, à tarde, entre as sete e as oito, estou diante do Santíssimo durante uma hora, em adoração. Mas também rezo mentalmente quando espero no dentista ou noutros momentos do dia".
O Santo Padre assinala logo que "a oração é para mim sempre uma oração ‘memoriosa’, cheia de memória, de recordações, também memória da minha história ou daquilo que o Senhor fez na sua Igreja ou numa paróquia particular".
"Para mim é a memória de que Santo Inácio fala na Primeira Semana dos?Exercícios, no encontro misericordioso com Cristo Crucificado. E pergunto-me: ‘Que fiz por Cristo? Que faço por Cristo? Que farei por Cristo?’".
"É a memória de que fala Inácio também na Contemplação para alcançar o amor, quando nos pede para trazer à memória os benefícios recebidos".
O Pontífice ressalta que "sobretudo, eu sei também que o Senhor tem memória de mim. Eu posso esquecer-me d´Ele, mas eu sei que Ele jamais se esquece de mim".
A memória, conclui o Papa Francisco, "funda radicalmente o coração de um jesuíta: é a memória da graça, a memória de que se fala no Deuteronômio, a memória das obras de Deus que estão na base da aliança entre Deus e o seu povo. É esta memória que me faz filho e me faz ser também pai."

A oração do Papa pelas famílias

Fonte: ACI Digital

Ao terminar a Missa celebrada na Praça São Pedro neste domingo, o Papa Francisco elevou uma oração pelas famílias, ante o ícone da Sagrada Família de Nazaré. Eis a oração, na íntegra:

"Jesus, Maria e José
a vós, Sagrada Família de Nazaré,
hoje, dirigimos o olhar
com admiração e confiança;
em vós contemplamos
a beleza da comunhão no amor verdadeiro;
a vós confiamos todas as nossas famílias;
para que se renovem nessas maravilhas da graça.
Sagrada Família de Nazaré,
escola atraente do santo Evangelho:
ensina-nos a imitar as tuas virtudes
com uma sábia disciplina espiritual,
doa-nos o olhar claro
que sabe reconhecer a obra da providência
nas realidades cotidianas da vida.
Sagrada Família de Nazaré,
guardiã fiel do mistério da salvação:
faz renascer em nós a estima pelo silêncio,
torna as nossas famílias cenáculo de oração
e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas,
renova o desejo de santidade,
sustenta o nobre cansaço do trabalho, da educação,
da escuta, da recíproca compreensão e do perdão.
Sagrada Família de Nazaré,
desperta na nossa sociedade a consciência
do caráter sagrado e inviolável da família,
bem inestimável e insubstituível.
Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz
para as crianças e para os idosos,
para quem está doente e sozinho,
para quem é pobre e necessitado.
Jesus, Maria e José
a vós com confiança rezamos,
a vós com alegria nos confiamos".

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A fé pode aumentar ou se perder

A Fé pode aumentar, a Fé pode diminuir e se perder. A Fé, consistindo essencialmente na adesão de nosso espírito à verdade revelada, aumenta ou diminui segundo seja a adesão mais ou menos firme.
Ora, sendo a alma humana ativa por natureza, é indispensável que sua Fé aumente ou diminua. Ela aumenta se a alma avança no conhecimento do Pai e do Filho e do Espírito Santo, se a alma penetra melhor nas verdades do Credo, em uma palavra, se a alma progride no caminho da verdade.Mas como a Fé requer, juntamente com assentimento do espírito, o movimento de piedade da vontade que quer crer, evidentemente a Fé também pode e deve crescer pelo caminho da vontade que se submete cada vez mais docilmente, cada vez mais amorosamente à verdade divina. Assim, duas coisas ajudarão singularmente a Fé em seu progresso, a saber: a instrução e a piedade. A instrução, o cristão a encontrará na pregação, no Catecismo, nas leituras santas; a piedade consistirá sobretudo na fidelidade às promessas do batismo; o cristão ajudado pela oração e pelos sacramentos, crescerá na Fé.
Todo cristão que quer crescer na Fé, deve vigiar com redobrada atenção contra tudo que for capaz de enfraquecer a Fé. Ele deve tomar cuidado para não se deixar levar pelas máximas deste mundo, pois o mundo, enquanto mundo, só se ocupa das coisas sensíveis; a Fé, ao contrário, nos mostra o preço inestimável das coisas invisíveis. O mundo só vê o presente; a Fé, que nos esclarece tanto sobre o passado quanto sobre o presente, nos faz velar principalmente sobre o futuro. O mundo está todo voltado para os gozos da terra; a Fé nos ensina que este é o tempo das privações e das penitências e nos mostra que Deus é o único bem verdadeiro em que podemos repousar nossas almas e esperar os verdadeiros gozos.
É preciso pois velar para permanecer fiel, quer dizer, crente. E quem assim velar, verá infalivelmente crescer em sua alma as luzes tão doces, tão serenas da verdade eterna; e quanto mais entrar nesta luz, mais ele provará o quanto o Senhor é doce, o quanto é precioso e inestimável o dom da Fé. Ao contrário, toda alma que não velar, que se deixar embalar pelas promessas insignificantes de um mundo que nada tem, que nada sabe, que nada pode, toda alma que não velar, verá sua Fé diminuir para em seguida se perder completamente.
Se tivéssemos olhos para ver o lamentável espetáculo das almas que perdem a Fé, não teríamos lágrimas que chegassem para chorar tão grande infelicidade.
Alguns perdem a Fé logo depois do batismo; esses não receberam a instrução cristã necessária, e suas almas nunca fizeram o ato de Fé. Privado de seu ato, o habitus posto em suas almas no dia do batismo foi facilmente reduzido a nada. É muito raro que as almas que perderam a Fé nestas condições a tornem a encontrar. Elas tornam-se estranhas a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo e vivem apenas uma vida terrestre, triste prelúdio de uma morte eterna.
Outros perdem a Fé pouco depois da primeira comunhão. Esses entram em um mundo descrente do qual não desconfiam, e imaginam que eles é que foram ingênuos por terem acreditado um pouco. Se chega o pecado mortal, coisa fácil de acontecer, será fácil também perder a Fé e fechar os olhos à pura luz que os havia tornado tão felizes no dia de sua primeira comunhão.
Ainda outros perdem a Fé nas escolas. Tanto escolas primárias como escolas superiores, fazem freqüentemente os batizados perderem a Fé. Aí não se ensina a conhecer o único e verdadeiro Deus, a saber o Pai e o Filho e o Espírito Santo; as escolas primárias têm como principal objetivo a formação do plural e do sistema métrico; às superiores só interessa o diploma de bacharel e de doutor. Sem falar daquelas onde se ensina consciente e propositadamente a impiedade, o indiferentismo ou mesmo o ateísmo.
Finalmente, há os que perdem a Fé pelos interesses materiais. Preocupados demais com os negócios, entregues inteiramente a especulações financeiras, esquecem seu batismo, negligenciam o cuidado com sua alma, não vivem mais da Fé, não velam mais para que sua Fé seja alimentada e perdem-na, talvez mesmo sem sentir.
Cartas sobre a Fé – Pe Emmanuel Andre – pags 9 e 10

Igreja celebra memória litúrgica de João Paulo II

Nesta terça-feira, 22, a Igreja celebra a memória litúrgica do beato João Paulo II. A data coincide com o início de seu ministério petrino, em 22 de outubro de 1978. Neste ano, a celebração ganhou um tom especial, já que fiéis em todo o mundo vivem a expectativa pela canonização do beato, que será em 27 de abril de 2014

Karol Jozef Wojtyla foi eleito Papa em 16 de outubro de 1978. Com um dos pontificados mais longo da história – quase 27 anos como Sucessor de Pedro - o Papa polaco cativou fiéis em todo o mundo com sua simpatia. 
Seu pontificado foi marcado por intensas atividades. Pode-se citar a conclusão da redação do Código de Direito Canônico, reformulado com base no Concílio Vaticano II, e a redação e promulgação do Catecismo da Igreja Católica (CIC). Em termos de número, visitou 129 países, escreveu 14 encíclicas, proclamou 476 santos e 1.318 beatos.
Uma atenção especial foi dedicada por João Paulo II à juventude. Em 1984, no Encontro Internacional da Juventude com o Papa, na Praça São Pedro, ele entregou aos jovens a Cruz, que seria um dos principais símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), instituída por ele mesmo em 1985. 
O Pontífice também enfrentou momentos difíceis. Em 13 de maio de 1981, foi vítima de um atentado na Praça São Pedro. O tiro que o atingiu submeteu-o a uma delicada cirurgia com extração de parte do intestino. Em julho de 1992, precisou de uma nova internação hospitalar, desta vez para retirar um pequeno tumor também no intestino. Em 1994, em consequência de uma queda, fraturou o fêmur.
Após 84 anos de vida e quase 27 à frente da Igreja católica, João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005. Ele foi beatificado em 1º de maio de 2011 em cerimônia presidida pelo então Papa Bento XVI na Praça São Pedro.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Esta foi a oração com a qual o Papa consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria

Diante de 100 mil pessoas presentes no domingo, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco consagrou o mundo ao Imaculado Coração da Virgem Maria. Esta é a oração de consagração que rezou o Santo Padre diante da imagem original da Virgem de Fátima que foi levada a Roma do seu santuário em Portugal:

Bem-aventurada Maria Virgem de Fátima,
com renovada gratidão pela tua presença materna
unimos a nossa voz àquela de todas as gerações
que te chamam bem-aventurada.

Celebramos em ti as grandes obras de Deus,
que jamais se cansa de prostrar-se com misericórdia
sobre a humanidade, afligida pelo mal e ferida pelo pecado,
para curá-la e para salvá-la.

Acolhe com benevolência de Mãe
O ato de consagração que hoje fazemos
com confiança, diante desta tua imagem
tão querida a nós.

Estamos certos de que cada um de nós é precioso aos teus olhos
e que nada é a ti estranho de tudo aquilo que habita em nossos corações.
Nos deixamos alcançar pelo teu dulcíssimo olhar
e recebemos o afago consolador do teu sorriso.

Protege a nossa vida entre os teus braços:
abençoa e reforça todo desejo de bem;
reaviva e alimenta a fé;
ampara e ilumina a esperança;
suscita e anima a caridade;
guia todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção
Pelos pequenos e pelos pobres,
pelos excluídos e os sofredores,
pelos pecadores e os dispersos de coração:
reúne todos sob tua proteção
e os entrega ao teu Filho amado, o Senhor nosso Jesus.
Amém.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Rosário, uma arma contra as ciladas do demônio

A Igreja celebra neste 7 de outubro a festa de Nossa Senhora do Rosário, recordando a vitória dos cristãos na batalha de Lepanto
Fonte: padrepauloricardo.org
Foram várias as ocasiões, ao longo da história da Igreja, em que a assistência providencial da Virgem Maria fez com que os cristãos travassem o bom combate (cf. 2 Tm 4, 7) e guardassem intacto o "precioso depósito" da fé católica (2 Tm 1, 14).
Não se contentando em deixar aos homens o seu digno exemplo de mãe e discípula de Jesus, o Senhor presenteou a Sua Igreja com o dom inestimável do Santo Rosário. No final do século XII, para vencer a influente heresia dos albigenses (de matriz gnóstica, esta heresia chegava a negar a ressurreição de Jesus), São Domingos de Gusmão recorreu ao auxílio de Nossa Senhora. "Insigne pela integridade da doutrina, por exemplos de virtude e pelos seus labores apostólicos", escreve o Papa Leão XIII, Domingos confiou "não na força das armas, mas sobretudo na daquela oração que ele, por primeiro, introduziu sob o nome do santo Rosário, e que, ou diretamente ou por meio dos seus discípulos, depois divulgou por toda parte".
A grandeza desta devoção, já profundamente enraizada no espírito dos católicos de todo o mundo, reside especialmente em sua simplicidade. Nesta "escola de oração" – como a chamou o Papa Francisco, no Angelus deste domingo, os cristãos são chamados a configurar-se de modo mais perfeito a Jesus Cristo, meditando os mistérios de sua vida e haurindo deles a força para perseverar dia a dia na fé.
Era assim que o bem-aventurado João XXIII – cuja canonização se avizinha – ensinava os católicos a rezarem o Santo Terço: "Na oração do rosário, aquilo que conta é o movimento dos lábios em sintonia com a devota meditação de cada mistério". Mais do que simplesmente recitar Pai Nossos, Ave Marias e Glórias em uma "monótona sucessão das três orações" o que, em tempos de materialismo e irreligiosidade, já é louvável –, é importante que os cristãos façam sempre alguns momentos de silêncio, a fim de realizar a oração mental, sem a qual é impossível se santificar.
A partir destas lições, não é difícil entender por que os neoprotestantes dentro da Igreja estão totalmente equivocados quando dizem que o Rosário é uma oração excessivamente mariana – ou, no seu dizer, "mariocêntrica". É claro que as suas críticas são preocupações escrupulosas de quem teme ofender a Jesus honrando Sua santíssima Mãe. No entanto, nem isto justifica que se acoime o Santo Terço de "esquecer" ou "desprezar" Jesus. Basta rezar com o mínimo de diligência o Santo Rosário para perceber que o centro de toda a oração está na contemplação dos mistérios da vida de Jesus, desde a Sua encarnação no seio da Virgem até a Sua gloriosa ascensão aos céus. As Ave Marias são, sobretudo, coroas de rosas que se oferecem a Nossa Senhora, a fim de ornar com a sublimidade da saudação angélica os pilares fundamentais de nossa salvação.
A memória de Nossa Senhora do Rosário, instituída no século XVI pelo Papa São Pio V, é um retrato particularmente notável da força desta simples oração. Foi em Lepanto, no dia 7 de outubro de 1571, que os fiéis combatentes católicos, com a bênção do Santo Padre e a proteção da Virgem das Vitórias, venceram os turcos muçulmanos, que estendiam seu domínio por grande parte da Europa. A vitória rápida se deveu à grande confusão dos otomanos, que ficaram aterrorizados ao vislumbrar, acima dos mastros da esquadria católica, a imagem de uma Senhora de aspecto grandioso e ameaçador.
Assim como triunfou na batalha de Lepanto, a Igreja militante é chamada a recorrer continuamente à Mãe do Rosário, para vencer a guerra mais importante de todas – a que diz respeito à salvação das almas. E, assim, no Céu, todos entoarão a famosa frase que representou aquele grande combate marítimo: Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit – Nem as tropas, nem as armas, nem os combatentes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A paz franciscana não é um sentimento piegas

fonte: Radio vaticana

Uma imensa multidão participa na Missa celebra pelo Papa Francisco, em Assis, junto das basílicas do Santo. Na homilia, o Papa evocou o exemplo concreto de São Francisco, com a sua “maneira radical de imitar a Cristo”. “O amor pelos pobres e a imitação de Cristo são dois elementos indivisivelmente unidos, duas faces da mesma medalha” - insistiu. Qual é hoje o testemunho que ele nos dá? – interrogou-se o Papa, observando que a primeira coisa, a realidade fundamental de que São Francisco nos dá testemunho é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é assimilação a Ele”. E isso “começa do olhar de Jesus na cruz”.
“Deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele. Francisco fez esta experiência, de um modo particular na pequena igreja de São Damião, rezando diante do crucifixo.”
“Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixarmo-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor”.
Um segundo aspecto do testemunho de São Francisco recordado pelo Papa na sua homilia foi o seguinte: “quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar”. “Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu e que nos transmite? É a paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos”.
O Papa fez notar que “a paz franciscana não é um sentimento piegas” “Por favor, este São Francisco não existe!”“A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem toma sobre si o seu jugo, isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.
Finalmente, terceiro aspecto do testemunho de Francisco de Assis recordado pelo Papa na homilia da missa, “o amor por toda a criação, pela sua harmonia”:“O Santo de Assis dá testemunho do respeito por tudo o que Deus criou e que o homem é chamado a guardar e proteger, mas sobretudo dá testemunho de respeito e amor por todo o ser humano”.
E foi neste contexto, quase a concluir a sua homilia, que o Papa Francisco lançou um solene apelo à paz e ao respeito pela criação: “Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente, no mundo.”
Este o texto integral da homilia do Papa:


Por que tu, Francisco?

Fonte: franciscanos.org.br
Por dois anos o corpo de Francisco repousou na simples igrejinha de São Jorge, onde ele, em criança, havia aprendido a ler e, depois dos anos de deserto, falou pela primeira vez aos seus amigos e concidadãos. O repouso, porém, não durou muito. Tendo sido eleito Papa, o protetor de Francisco, Hugolino (Gregório IX), sentiu-se chamado a glorificar o seu protegido. Começou o processo de canonização que ele confiou – teria sido um desafio – aos cardeais a respeito dos quais havia antigamente prevenido Francisco; terminou-o com a canonização. Em seguida, deu ordem para que fosse construída uma basílica em honra de Francisco, como centro de um culto universal. Deixou a execução nas mãos de seu parceiro de espírito, Frei Elias: este planejou uma obra genial, que ainda hoje causa admiração aos arquitetos: uma construção monumental à beira duma colina; foi concluída em dois anos.
No dia 25 de maio de 1230, o corpo de Francisco foi transportado, em circunstâncias curiosas, para a basílica, onde até agora descansa na cripta da igreja inferior.
Quem pergunta se nisso se agiu segundo o espírito do Poverello, visite a basílica e vá, depois, à Igrejinha de São Damião, a fim de se convencer de que um profeta, depois de morto, se torna impotente nas mãos de seus admiradores. Isto não quer dizer que Hugolino e Elias foram propositalmente infiéis a Francisco. Estavam simplesmente convencidos de que este profeta do Evangelho devia continuar a viver na história e ninguém poderá negar que o seu plano teve êxito. Quem já visitou Assis, sabe que cada dia chegam ao grande pátio diante da basílica ônibus e carros de turismo estrangeiros e incessantemente descem à cripta, passando pela igreja inferior, romeiros e turistas. O irmão Masseo abanaria a sábia cabeça mais uma vez: “Por que todo mundo corre atrás de ti, Francisco? E justamente atrás de ti?”
É uma pergunta que também a nós nos preocupa. Como é possível que num tempo em que tantos profetas apregoam a sua visão da vida, a visão de um medieval ainda atraia milhares de pessoas? Nesta nossa reflexão final não temos a intenção de examinar mais uma vez todas as facetas da vida de Francisco. Trata-se de algo mais profundo. Sendo que ele, sete séculos após sua morte, ainda empolga cristãos e não-cristãos, não se pode atribuir isso somente à basílica ou às paredes dela, que se tornaram um enorme afresco nas mãos dos artistas.
Este homem simples deve ter revelado do fundo de sua personalidade alguma coisa que ainda hoje dá uma resposta à questão fundamental da vida. Demonstrou, de modo atraente, como uma pessoa que nada possui, que não tem poder nem cultura especial, pode dar um sentido sublime à existência no cosmos.
Foi o sentido que muitos pensadores de nosso tempo não souberam encontrar. Jean Paul Sartre conta em sua autobiografia “Lês Mots” que, certa vez, quando criança, ao brincar, se sentiu como um viajante sem bilhete de viagem. Anos mais tarde, após ter passado por “uma dolorosa fase de longa duração” (ateísmo), volta ao mesmo assunto: “Sou outra vez o viajante sem bilhete de viagem, dos meus sete anos”. Francisco passou também por um doloroso processo. Sabia, porém, para onde ia. Ele tinha um bilhete de viagem. A direção para uma só finalidade da vida tinha para ele uma universalidade singular. Tudo que ele sentia de amor no cosmos, de maravilhas, de beleza, mas também de sofrimento e miséria, levava-o espontaneamente ao mistério insondável no qual repousa o cosmos. O seu relacionamento com o mendigo ou com o leproso, com o animal ou com os elementos da natureza, adquiria uma dimensão infinita, pois tudo isso atingia as questões básicas da existência: de onde? Por quê? Para Onde? E a razão por que este profeta até hoje causa admiração ou simpatia em muitas pessoas, está na sua resposta: de Deus, por causa de Deus, para Deus.
Trecho do livro “Francisco de Assis, Profeta de Nosso Tempo”, N. G. Van Doornik, da Editora Vozes.