quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dia dos Avós

Hoje, 26 de julho, celebramos o dia de São Joaquim e Sant’Ana, pais de Maria Santíssima e avós de Jesus e comemoramos o Dia dos Avós, homenageando todos os avós, desde aqueles mais jovens e ativos aos mais idosos e dependentes. 
É muito bom curtir uma avó ou avô cheio de vida, lúcido, saudável, que ajuda no cuidado com os netos, leva-os para passear, ajuda na lida doméstica e, às vezes, até nas despesas... Mas, por que não tratarmos com o mesmo carinho, aquele vovô que está confuso, que se esquece das coisas, aquela vovó que não participa das conversas, que está alheia ao que acontece à sua volta, que não tem mais disposição para o trabalho, que apresenta sinais de incapacidade para as coisas mais banais? Será que nós, pais e mães, nos esquecemos de ensinar aos nossos filhos, que esses também são avós, que um dia cuidaram dos filhos e netos, trocaram fraldas, fizeram papinha, buscaram na escola... e também merecem receber carinho, proteção, abraço? 
Sempre é tempo de mudar! O texto abaixo nos lembra das necessidades e carências do vovô e vovó que, muitas vezes, fica esquecido em um canto da casa ou colocado em um asilo, sem sequer uma visita ou um abraço. 
Para ler, refletir e agir... 

Testamento 

Adaptação livre de texto de Liliam Alicke 
Por Eduardo Machado 

Uma das maiores conquistas do mundo moderno é o avanço da Medicina, em especial a Medicina Preventiva, desenvolvendo métodos e técnicas que ajudam a preservar e alongar com qualidade a vida humana. Hoje é cada vez mais comum encontramos pessoas na chamada terceira idade vivendo de forma absolutamente produtiva, prazerosa, integrada e feliz. 
No entanto, a conquista da longevidade também colocou em evidência uma das doenças mais traiçoeiras do nosso tempo, o chamado Mal de Alzheimer. Antigamente, quando um idoso, uma idosa começava a apresentar sintomas como esquecimento, confusão mental, dificuldades de locomoção ou para desempenhar tarefas simples, o diagnóstico familiar era um só: caduquice! 
Hoje sabemos que não. O Mal de Alzheimer, uma vez instalado, vai lentamente comprometendo o funcionamento do cérebro da pessoa, mas preserva, por muito tempo, as funções vitais, o que gera um paradoxo: pessoas, com a saúde considerada “perfeita” e, ao mesmo tempo, incapacitadas para as ações mais comuns e banais no cotidiano. 
Lembrei-me disso ao ler uma crônica de Lilian Alicke, que me permiti adaptar e compartilhar com vocês. No texto, uma senhora idosa ao fazer o seu testamento, deixa o seguinte recado: 

“Junto com meu testamento, no qual lego a meus filhos e amigos a minha vontade de viver, meu amor a Deus e a toda a criação, faço um pedido: 
Se, por ventura, no meu cérebro a senilidade penetrar sorrateiramente, a demência se infiltrar inesperadamente e o esquecimento, a falta de lucidez e a confusão se instalarem, por favor, lembrem que eventualmente, ainda tenho uma vaga idéia de minha identidade; gosto de ser chamada pelo meu nome, aquele que meus pais me deram; 
Posso ainda saber onde estou e com quem estou. E posso estar gostando ou não de onde estou e com quem estou; 
Faço ainda questão daquele tipo de sapato que usei por toda a minha vida. Gosto ainda de usar a roupa ao estilo que sempre preferi; a roupa dos outros, colocada em mim, de qualquer jeito, sem cuidado, me entristece. 
A falta de atenção em me ajudar na higiene pessoal me traz ansiedade. A comida de um estilo que não conheço, com um tempero que me é estranho, não me apetece, 
As fraldas de vez em quando me incomodam e me deixam envergonhada. Gostaria, às vezes, de caminhar livre para espairecer e ver a natureza. 
Minha falta de sono não é proposital, nem intencional. A falta de interesse, meu olhar ausente, estão além do meu controle. Minha falta de jeito para coisas simples, como usar os talheres, é inexplicável para mim mesma; o esquecimento e a solidão me deixam traumatizada. 
Por isso, receber visitas me faz lembrar que sou importante; receber um abraço e um beijo me diz que alguém ainda tem afeto por mim. 
Quando alguém gasta tempo comigo, me dando uma palavrinha, conversando sobre banalidades ou coisas sérias, me ajudando a lembrar coisas antigas que ainda guardo na pouca memória, sinto uma alegria enorme, que nem sempre sei expressar, lembro que sou gente, que tenho uma história. 
Tenho também dores que às vezes não tenho como explicar. Nem sempre o que me fazem fazer é o que eu gostaria de estar fazendo. Meu olhar vago não reflete o que sinto. E se não dou um abraço é porque os meus braços não me obedecem mais; se não dou um beijo é porque meus lábios não sabem mais como fazer isso. 
Se não te digo que valorizo sua dedicação, sua paciência e seu amor por mim, é porque, em algum lugar dentro de mim, a ponte entre os meus afetos e a realidade se partiu, e perdi o caminho que me levaria a compartilhar meus sentimentos com você. 
Do lado de cá dessa ponte, eu continuo sendo a pessoa que te amou por toda a vida...”

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