quinta-feira, 12 de julho de 2012

Conversa de amigos

Eduardo Machado
Contemplando Lucas 10,38-42
Estava no jardim, quando vi Jesus chegar à casa de seus amigos, Lázaro, Marta e Maria. Eu trabalhava para eles como jardineiro, em Betânia. 
Jesus foi recebido com alegria por Maria, ainda no portão. Ao entrar, me cumprimentou com um sorriso e um aceno de cabeça. Marta, logo que viu Jesus, correu esbaforida casa adentro para arrumar tudo que, segundo ela, estava a maior bagunça. 
Maria sentou-se com Jesus sob um pé de romãs e começaram a conversar. Ele contava de suas caminhadas pela Galiléia, as pessoas que encontrara, tudo o que acontecera naqueles dias. Maria ouvia as palavras de Jesus e as guardava no coração. 
Ele começara a contar do diálogo que tivera com um doutor da lei sobre quem é o nosso próximo quando Marta os interrompeu; com as mãos na cintura e com uma expressão zangada disse:
- Mestre, não vês que estou ocupada enquanto minha irmã fica aí, a ouvi-lo, sem em nada me ajudar? Peça a ela que cuide também de preparar a casa para recebê-lo... 
Realmente, desde que Jesus chegara, Marta havia varrido a casa, arrumado a cozinha e preparado um lanche que estava agora sobre a mesa. 
Maria baixou os olhos envergonhada. Jesus ergueu-se sorrindo e caminhou até Marta. Ao passar por Maria afagou sua cabeça, num gesto de carinho quase imperceptível. Aproximou-se e abraçou Marta que tinha nas mãos um prato com broinhas de fubá que acabara de fazer. Jesus apanhou uma broinha, ainda quentinha, deu uma mordida e falou: 
- Hum, que delícia Marta, você é mesmo uma cozinheira fantástica, mas há um pequeno problema... 
E Jesus passou o braço em torno do ombro de Marta e foi levando-a, meio que empurrada, para o jardim, onde estava Maria. 
- Marta, minha querida Marta, você se preocupa com muitas coisas e não tem tempo para o mais importante. Maria soube escolher o melhor e isso não lhe será tirado. Quanto a você... 
- Desculpe Senhor, disse Marta, eu concordo com o que dizes mas enquanto falavas já comestes duas das minhas broinhas. 
Jesus deu uma gargalhada e tomou de Marta o prato de broinhas fumegantes. 
- Pois vou comê-las todas pois estão mesmo uma delícia. Mas Marta, veja bem nós não poderíamos ter sentado, conversado, matando as saudades primeiro? Você se preocupa muito com as obrigações a cumprir, que tudo esteja certinho, arrumado a tempo e a hora. Quanto às broinhas, nós poderíamos até tê-las feito juntos! Olha, as suas são especiais, mas eu sei uma receita que mamãe me ensinou... 
Marta sorriu e rendeu-se, sentando-se ao lado de Maria. A tarde foi caindo junto com o sol atrás das montanhas. No jardim, os três conversavam animadamente sob os galhos de romã. 
Eu me aproximei e contemplei aquela cena cheia de doçura e simplicidade. Jesus tinha no colo um prato vazio. Olhou para Marta, um sorriso maroto, e disse: “Nem só de pão vive o homem... mas essas suas broinhas..." 

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