quinta-feira, 18 de junho de 2015

Franciscanos falam da “Laudato si”

Fonte: franciscanos.org.br
Dois anos depois de surpreender o mundo ao aparecer no balcão Central da Basílica de São Pedro com o nome de Papa Francisco, revelando a inspiração que lhe deu o Poverello de Assis, neste dia 18 de junho de 2015, novamente o Papa Francisco volta a ser o centro do mundo ao lançar a sua primeira Encíclica: “Laudato si”, toda ela bebendo na fonte franciscana, inclusive o título do “Cântico das Criaturas”.

A encílica do Papa Francisco é lançada num momento crucial para o Planeta. Neste ano, de 30 de novembro a 11 de dezembro, será realizada em Paris no final do ano que vem uma grande conferência internacional (a COP 21), cuja agenda é chegar a um acordo global sobre mudanças climáticas, para entrar em vigor em 2020. Esse novo acordo deverá substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que teve resultados decepcionantes.

Neste Especial, frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, entre eles dois bispos – Dom Jaime Spengler e Dom João Bosco – dão as primeiras impressões sobre esse momento histórico na Igreja.

O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, propõe que esta Encíclica seja “um estilo de vida e uma dimensão transversal de toda a nossa evangelização franciscana”: “Penso que nós, Frades Menores, por dever vocacional de fidelidade ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e fiéis discípulos de São Francisco de Assis, devemos ser os novos arautos e mensageiros da essência desta primeira Encíclica do Papa Francisco. “Laudato Si” deve ser o nosso cântico de louvor e convite para que o ‘mundo universo’ se una no ‘cuidado da casa comum’”.

Para o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, o Papa chama a todos à responsabilidade, a cooperar na restauração de nossa ‘casa comum’: “É um documento com forte característica social. Ela trata da questão ecológica não de forma meramente intelectual; ela toca o coração! Chama-nos à corresponsabilidade… Diante dos tantos sinais de “dores de parto” diagnosticáveis na criação, somos instigados a reagir”.

Para o bispo Dom João Bosco,da Diocese de Osasco, muito mais se poderá ler nas quase 200 páginas, verdadeira cachoeira de água límpida, despejada por Francisco na imundície em que se tornou o mundo depauperado pela ganância e pela cultura da morte. “Com a Laudato Si’, o Papa fala ao mundo que está colocando a sua Igreja, mais uma vez, “em saída” para curar as feridas e as fragilidades de um mundo enfermo. Fazer-nos a todos, franciscanos ou não, missionários de uma nova humanidade, recriada à luz da sabedoria divina, é o que podemos esperar deste grande presente que nos oferece o Papa Francisco”.

Frei Gustavo Medella, coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação, revelou que se emocionou ao escrever o texto sobre a Encíclica: “Francisco pede uma Igreja de saída e é o primeiro a sair. Sai sem medo, impulsionado pela fé firme de um apóstolo. Sai na direção do mundo, do ser humano e de seus grandes dramas. Sai com humildade, não como o “dono da verdade”, mas como fiel seguidor do Filho de Deus que se fez pobre e acessível. Ao sair, coloca-se todo à disposição e chama à responsabilidade”.

O exegeta Frei Ludovico Garmus, professor no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (ITF, RJ), diz que a Encíclica do Papa Francisco aos católicos, aos cristãos em geral e aos “homens de boa vontade”, nos coloca desafios inadiáveis a serem enfrentados urgentemente. “Temos em mãos um roteiro riquíssimo para nossa reflexão, que poderá nos conscientizar sobre a crise ecológica. Assim iluminados pela luz da fé, da palavra de Deus e da teologia, serem capacitados a cuidar melhor de nossa casa comum, a irmã e mãe terra, e de toda vida que ela abriga”.

O doutor em Teologia, com especialização em espiritualidade franciscana, Frei Fábio César Gomes, lembra o caráter propositivo do documento. “O Papa Francisco propõe a palavra diálogo como grande resposta para à crise: diálogo na política internacional, nacional, local; diálogo e transparência nos processos decisórios, diálogo entre política e economia, entre religião e ciência. Propõe também uma espiritualidade ecológica, de cunho sacramental e trinitário que exigirá, de todos nós, uma ‘conversão ecológica’.”

Já Frei Vitório Mazzuco, professor de espiritualidade franciscana do ITF, a Encíclica questiona, provoca e propõe um novo estilo novo de vida, de educação para respeitar o ambiente. “Ecologia não é mera militância de barulhentos ambientalistas, mas sim luta profética para melhorar a qualidade de vida. Tecnologia e progresso não são processos de destruição. Estilo de vida não é gastar excessivamente os recursos de energia e suas fontes”.

Para Frei Jean Ajluni Oliveira, recém-ordenado diácono e vice-mestre dos frades de profissão temporária em Rondinha, a importância desta encíclica é de nos fazer entender que o tema do cuidado é nuclear, não apenas na espiritualidade franciscana, mas na vida cristã. “Ao citar S. Francisco como ‘o exemplo por excelência do cuidado por aquilo que é frágil e de uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade’, o Papa traduz em poucas palavras um dos aspectos centrais mais belos da espiritualidade Franciscana, pensar a ecologia integralmente, somos irmãos de tudo e de todos, ligados e integrados por uma fraternidade cósmica que tem o Altíssimo como Pai, e por isso sermos gratos: ‘Louvado sejas meu Senhor’. Deste modo, o cuidado não é uma obrigação, mas um ato de fraterno de amor”.

Frei João Reinert, doutor em Teologia, agradece ao Papa Francisco por resgatar o verdadeiro sentido de ecologia integral em São Francisco de Assis. “Chama atenção a lucidez com que a Papa associa ecologia com outros valores ou contra-valores. Somente a partir dessa leitura parece ser possível associar Francisco de Assis à ecologia. Em outras palavras, a vida de Francisco de Assis, sua opção pelo Evangelho, sua vida pobre e fraterna é a chave de leitura para entendemos sua relação com toda a natureza”.
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