quarta-feira, 20 de junho de 2012

A fé professada e a fé vivida

Entre o período de 11 de outubro de 2012 e 24 de novembro de 2013 a Igreja, em todo o mundo, estará vivendo o ano da fé. Com certeza muito se falará a respeito, mas, mesmo antes do seu início esse assunto nos movimenta e partilho com vocês uma breve e simples reflexão sobre a fé professada e a fé vivida.
 O que é fé? Podemos dizer que a fé exprime uma certeza, uma confiança, uma aceitação como algo real. Para o cristão é a aceitação da pessoa de Jesus Cristo com a consequência lógicas desta aceitação.
A definição bíblica de fé encontramos em Hb 11, 1 onde lemos que “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê”, ou seja, se eu vejo, se eu comprovo não há necessidade da fé. 
 A teologia católica define fé, de acordo com São Tomaz de Aquino, como sendo o ato do intelecto que assente (ato de quem consente) à verdade divina, sob a influência da vontade movida por Deus mediante a graça. 
 Nos evangelhos sinóticos, a fé é a tida como a própria aceitação de Jesus como sendo aquilo que Ele proclama ser, Filho de Deus, Mestre, Bom Pastor, Salvador, etc. e, em função desta aceitação procurar viver como Ele viveu e ensinou. A fé cristã também se traduz em obediência.
Ao longo da história Deus foi se revelando e em Jesus Deus se revelou por inteiro (Conf. Dei Verbum, sobre a revelação divina). Apesar da revelação já ter sido concluída em Jesus, isso não significa que nós já a conheçamos e a compreendamos por inteiro, por isso Jesus mesmo disse que o Espírito Santo nos revelaria todas as coisas, nos recordaria todas as coisas. Este decifrar da revelação divina está a cargo do Magistério da Igreja, mas a sua difusão é incumbência de todo batizado. Jesus escolheu algumas pessoas para darem prosseguimento a sua missão. Essas pessoas foram os seus apóstolos e discípulos que também foram escolhendo outros para continuar a missão que haviam recebido de Jesus. Isso vai acontecendo até chegar a nós. Hoje nós somos esse povo responsável por propagar a boa nova.
 Ao longo dos últimos 20 séculos a Igreja, auxiliada pelo Espírito Santo, foi decifrando esta revelação que tem a sua essência resumida na oração do “Creio”.
 Na oração do “creio” nós dizemos que, mesmo não os vendo, cremos que existe um Deus que é Uno e Trino, que é Pai, é Filho e é Espírito Santo. Dizemos que cremos em coisas que já aconteceram, como toda a criação ou a morte de Jesus, mas também dizemos que cremos em coisas que ainda virão, mesmo sem sabermos quando nem como. 
 Confessar o que cremos é muito importante, porém nossa fé precisa ir além do que falamos. Nossa fé precisa ser vivida, ou seja, uma fé professada e vivida. Nossa fé deve gerar em nós uma rendição e aceitação total a uma pessoa, Jesus.

Como eu vivo a minha fé?
Se eu digo que creio em Deus que é Pai, devo agir como filho. Como creio que Deus é Bom, devo agir como um bom filho.
Da mesma forma se digo que creio em Jesus, devo procurar segui-Lo, imitá-Lo.
Vale o mesmo para o Espírito Santo. Se digo que creio Nele devo me deixar ser conduzir por Ele.
Quando digo que creio na Igreja Católica idem e quando falo que creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna, devo procurar viver pensando alcançar uma vida eterna em Deus e não uma vida eterna sem Deus.
Em palavras isso até parece fácil, mas será que na prática é simples assim?
Quando Tiago fala que a fé sem obras é morta (cf. Tg 2, 17.26) ele não está dizendo que as obras é que nos salvarão. O próprio Paulo alerta que as obras da lei não tem valor salvífico para os batizados (cf. Rm 3, 20.28; Gl 2,16; 3, 2.10). Somente as obras são incapazes de salvar o batizado, porém a fé e as obras são indispensáveis para a sua salvação (cf. 1Ts 1, 3). Quem nos salva é Jesus, mediante a nossa fé vivida no dia a dia. 
Como transformar a minha fé em obra?
• Confiando em Deus
• Obedecendo a seus mandamentos
• Fazendo as obras de misericórdia que são:
 Obras de Misericórdia corporais
1-dar de comer a quem tem fome;
2-dar de beber a quem tem sede;
3-vestir os nus;
4-visitar os doentes;
5-visitar os presos;
6-acolher os peregrinos;
7-enterrar os mortos.
Obras de Misericórdia Espirituais
1-dar bom conselho;
2-corrigir os que erram;
3-ensinar os ignorantes;
4-suportar com paciência as fraquezas do próximo;
5-consolar os aflitos;
6-perdoar os que nos ofenderam;
7-rezar pelos vivos e pelos mortos.
Isso tudo, porém terá valor verdadeiro para nós se fizermos por amor a Deus. Se a fé sem obras é morta, as obras sem a fé são apenas obras. É claro que para aquele que é objeto da obra de fé, a obra feita sem amor a Deus servirá, mas que valor terá a obra ao que a faz se não a fizer com fé e por amor a Deus?
Peçamos ao Senhor que venha em socorro a nossa fé que, muitas vezes é fraca e vacila. Que nossa fé professada possa ser também vivida. Peçamos ao Senhor que cure nossos corações do desejo de comprovar tudo, de entender tudo, de saber tudo... Afinal, aquilo que é desvendado não é mais objeto de fé.
Sérgio Henrique Speri - Coordenador do Ministério da Formação da RCC na Arquidiocese de Ribeirão Preto e do Conselho Editorial da RCC Brasil. 

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