sexta-feira, 4 de maio de 2012

Presença de ternura


Em Nova Iorque, realizou-se, anos atrás, uma célebre exposição internacional, atraindo turistas de todo o mundo. Era o triunfo do engenho humano, presente em todos aqueles pavilhões: computadores eletrônicos, o homem viajando à lua, explorando os abismos do mar. Amostras, as mais refinadas, de todo o arsenal tecnológico acumulado nas últimas décadas. Os visitantes passavam surpresos de deslumbramento a outro.
À noite, todo aquele parque monumental transformava-se numa festa iluminada: fontes e chafarizes coloridos, fogos de artifício, cinema e restaurantes ao ar livre...
Detalhe curioso, porém; o pavilhão do Vaticano foi o mais visitado, em meio àquela montanha tecnológica, exaltando a inteligência humana.
Ali, sem nenhum aviso prévio, o turista silenciava... Silenciava, ao natural, diante da Pietá, de Michelangelo. Os gracejos morriam, as gargalhadas findavam, os comentários morriam na garganta. Um respeitoso silêncio-oração impregnava o ambiente. Dentro daquela exposição mundial, a Virgem Santíssima sustentando sobre os joelhos maternos seu filho morto. Em plena Nova Iorque, uma das maiores cidades do mundo, a famosa Pietá surgia como um símbolo vigoroso, lembrando que Deus continua vivo no coração dos homens, no coração dos cidadãos do século XX. Século de tantos contrastes chocantes, materializado, hedonista, superficial, voando baixinho espiritualmente e muito pouco santo em tantas áreas...
Aquele silêncio reverente era uma homenagem irrefutável a Deus. Um preito filial à mulher mais amada e mais venerada do mundo: Maria, filha de Joaquim e Ana. Naquele silêncio coletivo, internacional, ecoava a profecia da própria Virgem Maria: “Bem-aventurada chamar-me-ão todas as gerações, através dos tempos”.
Prodigioso o destino dessa criança de Israel, da tribo de Davi, humilde camponesa igual a tantas outras... Pouquíssimas linhas consagraram-lhe os evangelistas. Mas, sem ela o plano da Redenção não teria acontecido. Em sua humildade Deus a encontrou. É sempre com os mais humildes e despojados que a Providência divina opera as maravilhas.
Maria, a silenciosa. Maria, a sempre presente. Presença infinitamente discreta. Presença sofrida. Presença de Mãe, que mais inspira do que ordena. Que mais encoraja e nunca violenta. Presença maternal, cujo sorriso, cujo olhar e cujas lágrimas falam mais alto do que as palavras... E sua presença de carinho e ternura, de generosidade e amor permanece como um oásis da humanidade. (Fonte: Maria de Deus, Maria do povo - Padre Roque Schneider - Ed. Santuário, pg. 66)

Um comentário:

Maria Lúcia França disse...

Como não se calar e não se dobrar diante dessa representação que aflora em nós toda uma trajetória de profundo amor. Silenciar diante do gritante silêncio. A Pietá, a imagem da Virgem com o Filho de Deus aos braços consolando a humanidade apesar de sua imensa dor. Uma mãe que sofre pela perda do filho amado e continua confiando em Deus e Nele se derrama e se entrega incondicionalmente, pois no fundo de sua alma tem a certeza que depois da dolorosa Paixão, vem a Glória definitiva.