quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Mensagem do Papa Francisco para o dia Mundial do doente de 2015

O Vaticano publicou nesta terça-feira, 30, a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente 2015, celebrado em 11 de fevereiro. Aos doentes e trabalhadores e voluntários na área de saúde, o Santo Padre fala da sabedoria do coração para acolher o sofrimento dos outros.

Leia, na íntegra, a mensagem:

Mensagem do Papa Francisco para 23º Dia Mundial do Doente – 11 de fevereiro de 2015
Terça-feira, 3o de dezembro de 2014

Boletim da Santa Sé
Sapientia cordis.
«Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (Jó 29, 15)»
Queridos irmãos e irmãs,
por ocasião do XXIII Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo II, dirijo-me a todos vós que carregais o peso da doença, encontrando-vos de várias maneiras unidos à carne de Cristo sofredor, bem como a vós, profissionais e voluntários no campo da saúde.

O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: «Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo» (29, 15). Gostaria de o fazer na perspectiva da «sapientia cordis», da sabedoria do coração.

1. Esta sabedoria não é um conhecimento teórico, abstrato, fruto de raciocínios; antes, como a descreve São Tiago na sua Carta, é «pura (…), pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia» (3, 17). Trata-se, por conseguinte, de uma disposição infundida pelo Espírito Santo na mente e no coração de quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e neles reconhece a imagem de Deus. Por isso, façamos nossa esta invocação do Salmo: «Ensina-nos a contar assim os nossos dias, / para podermos chegar à sabedoria do coração» (Sal 90/89, 12). Nesta sapientia cordis, que é dom de Deus, podemos resumir os frutos do Dia Mundial do Doente.

2. Sabedoria do coração é servir o irmão. No discurso de Jó que contém as palavras «eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo», evidencia-se a dimensão de serviço aos necessitados por parte deste homem justo, que goza duma certa autoridade e ocupa um lugar de destaque entre os anciãos da cidade. A sua estatura moral manifesta-se no serviço ao pobre que pede ajuda, bem como no cuidado do órfão e da viúva (cf. 29, 12-13).

Também hoje quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser «os olhos do cego» e «os pés para o coxo»! Pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar, vestir e alimentar. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! Em tais momentos, pode-se contar de modo particular com a proximidade do Senhor, sendo também de especial apoio à missão da Igreja.

3. Sabedoria do coração é estar com o irmão. O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que «não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (Mt 20, 28). Foi o próprio Jesus que o disse: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 27).

Com fé viva, peçamos ao Espírito Santo que nos conceda a graça de compreender o valor do acompanhamento, muitas vezes silencioso, que nos leva a dedicar tempo a estas irmãs e a estes irmãos que, graças à nossa proximidade e ao nosso afeto, se sentem mais amados e confortados. E, ao invés, que grande mentira se esconde por trás de certas expressões que insistem muito sobre a «qualidade da vida» para fazer crer que as vidas gravemente afetadas pela doença não mereceriam ser vividas!

4. Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão. Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesi do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás desta atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz: «a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).

Por isso, gostaria de recordar uma vez mais a «absoluta prioridade da “saída de si próprio para o irmão”, como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 179). É da própria natureza missionária da Igreja que brotam «a caridade efectiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove» (Ibid., 179).

5. Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem o julgar. A caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para os visitar. Tempo para estar junto deles, como fizeram os amigos de Jó: «Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande» (Jó 2, 13). Mas, dentro de si mesmos, os amigos de Jó escondiam um juízo negativo acerca dele: pensavam que a sua infelicidade fosse o castigo de Deus por alguma culpa dele. Pelo contrário, a verdadeira caridade é partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro; está livre daquela falsa humildade que, fundamentalmente, busca aprovação e se compraz com o bem realizado.

A experiência de Jó só encontra a sua resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para conosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo ressuscitado, naquelas suas chagas gloriosas que são escândalo para a fé, mas também verificação da fé (cf. Homilia na canonização de João XXIII e João Paulo II, 27 de Abril de 2014).

Mesmo quando a doença, a solidão e a incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e fonte para adquirir e fortalecer a sapientia cordis. Por isso se compreende como Jó, no fim da sua experiência, pôde afirmar dirigindo-se a Deus: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora vêem-Te os meus próprios olhos» (42, 5). Também as pessoas imersas no mistério do sofrimento e da dor, se acolhido na fé, podem tornar-se testemunhas vivas duma fé que permite abraçar o próprio sofrimento, ainda que o homem não seja capaz, pela própria inteligência, de o compreender até ao fundo.

6. Confio este Dia Mundial do Doente à proteção materna de Maria, que acolheu no ventre e gerou a Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração.

Acompanho esta súplica por todos vós com a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 3 de Dezembro – Memória de São Francisco Xavier – do ano 2014.

FRANCISCUS

sábado, 27 de dezembro de 2014

Porta-voz do Vaticano faz balanço do ano do Papa Francisco

Fonte: Canção Nova

Viagens internacionais e eventos como a canonização de dois Papas e o Sínodo da Família marcaram o ano de Francisco; padre Lombardi comenta

O ano de 2014 foi intenso para o Papa Francisco, a começar pelo fato de ter realizado cinco viagens internacionais. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, fez um balanço desse ano, que foi praticamente o segundo do pontificado de Francisco.

“Cultura do encontro” foi o termo utilizado por padre Lombardi para caracterizar este ano de 2014 do Santo Padre. Ele explicou que o Papa tem este modo de se dirigir aos outros como pessoa que encontra pessoas, o que fica evidente, por exemplo, no relacionamento com grandes personalidades, como com o Patriarca Bartolomeu. “Isso me parece algo muito precioso, muito importante e muito característico do Papa Francisco”, disse.

Viagens internacionais

Outro aspecto importante, segundo o sacerdote, é a fronteira da Ásia: Francisco visitou a Coreia e, dentro de poucos dias, de 12 a 19 de janeiro de 2015, vai para as Filipinas e Sri Lanka. Trata-se de uma renovada atenção da Igreja para esta região, que representa uma das grandes fronteiras da Igreja atual.Só neste ano que passou, Francisco visitou cinco países: Terra Santa, Coreia do Sul,Albânia, França (Estrasburgo, para uma visita de um dia ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa) e Turquia. Padre Lombardi destacou o caráter ecumênico que revestiu algumas dessas viagens, como o que aconteceu em Jerusalém e depois em Constantinopla com o Patriarca Bartolomeu.

Padre Lombardi não deixou de mencionar a dimensão europeia. A viagem à Albânia foi breve, mas significativa pelo fato do Papa desejar partir das periferias para chegar ao coração de um continente. Tão breve quanto foi a visita a Estrasburgo, quando o Pontífice pôde fazer um discurso articulado a toda a Europa.

“Um ponto particular que gostaria de recordar dessas viagens é a dimensão do martírio: seja na Coreia, onde a história da Igreja é caracterizada pelo martírio, seja na Albânia, onde o martírio nos tempos recentes, sob o comunismo, foi fortíssimo, seja no Oriente Médio, onde o martírio é também uma realidade atual pelos tantos problemas que acontecem. O Papa encontra esta realidade e nos recorda a atualidade dessa dimensão na vida da Igreja de todos os povos e tempos, também do nosso”.

Reforma da Igreja

Padre Lombardi explicou que, desde o início de seu Pontificado, Francisco colocou em prática um projeto de reforma da Cúria Romana. Mas esta é apenas uma parte de um projeto maior que o Pontífice formulou na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: o projeto de uma Igreja em saída, da Igreja missionária, da Igreja empenhada na evangelização, da qual a Cúria Romana é uma serva, um instrumento para ajudar a Igreja na sua missão.

“O que me parece muito importante notar é que, para o Papa, o coração de toda reforma é interior: as reformas partem do coração (…) Os discursos que ele fez antes do Natal, seja à Cúria seja aos funcionários vaticanos, o discurso que ele fez no término do Sínodo nos dizem muito claramente como ele governa a Igreja também com o discernimento espiritual para curar em profundidade as nossas atitudes, tornar-nos mais radicalmente fiéis ao Evangelho e, com isto, depois, poderemos também exercitar melhor todo o nosso serviço, toda a nossa atividade de evangelização ou de serviço eclesial”.

Sínodo da Família

“É um empreendimento muito corajoso, porque o Papa colocou na mesa temas também difíceis, delicados; porém, é algo do qual realmente havia necessidade”.Um evento importante para os católicos em 2014 foi a 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que foi a primeira de duas etapas do Sínodo da Família, cuja conclusão será em 2015. Para padre Lombardi, foi um dos grandes “empreendimentos” pastorais e eclesiais colocados em caminho por Francisco, talvez o principal, no sentido que toca verdadeiramente a vida de todos.

Cristãos perseguidos

Esta é uma questão que, juntamente à paz, à justiça, aos pobres e à escravidão moderna, é particularmente estimada pelo Papa. Padre Lombardi recorda que, desde o início de seu pontificado, Francisco quis se lembrar dos pobres e das periferias e é possível vê-lo fazendo isso continuamente. “Diria que o Papa fez justamente uma mobilização da Igreja, das pessoas de boa vontade, sobre estas fronteiras”.

Nesse ano, a situação dramática no Oriente Médio chamou a atenção, um contexto em que muitas pessoas – cristãos ou não – precisaram abandonar suas casas e viver como refugiadas. Tal situação foi tema de vários apelos do Papa, que dois dias antes do Natal enviou uma carta aos cristãos no Oriente Médio, lembrou ainda o sacerdote.

Diálogo inter-religioso

Padre Lombardi acredita que o diálogo inter-religioso está entre os pontos importantes do pontificado de Francisco em 2014. Esta é uma dimensão que esteve em evidência tanto na viagem à Abânia quanto à Turquia.

“Parece-me que o Papa está muito consciente também da situação do Islã no mundo moderno e procura encontrar os caminhos para uma relação construtiva, também no diálogo”.

Canonização dos Papas

Ao mencionar a canonização de João Paulo II e João XXIII, bem como a beatificação de Paulo VI, padre Lombardi indicou como denominador comum desses eventos a atualidade do Concílio Vaticano II, que esteve no centro da vida e do ministério desses três Papas.

“Estes dois eventos – canonização e beatificação – marcam também a inserção do pontificado de Francisco na esteira dos seus predecessores, no grande quadro do Concílio Vaticano II e da sua atuação no nosso tempo”.

A oração do bom humor rezada pelo Papa Francisco

O Papa fez uma oração diferente em seu encontro com os membros da cúria romana esta semana.

“Como bom inglês, o mártir Tomás Moro valorizava o senso de humor. Acho que, se o temos para valorizar esta oração, é porque Deus também o tem como fonte de bom ânimo. Eu aprecio muito esta oração!”, disse.

Vamos rezar com o Papa?

Oração do bom humor
Senhor, dai-me uma boa digestão,
mas também algo para digerir.
Dai-me a saúde do corpo, mas também
o bom humor, necessário para mantê-la.

Dai-me, Senhor, uma alma simples,
que saiba aproveitar tudo o que é bom
e que não se assuste quando o mal chegar,
e sim que encontre a maneira de colocar as coisas no lugar.

Dai-me uma alma que não conheça o tédio
nem os resmungos, suspiros e lamentos,
e não permitais que eu me atormente demais
com essa coisa incômoda demais chamada “eu”.

Dai-me, Senhor, senso de humor!
Amém.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Onde está o verdadeiro espírito natalino

Padre Anderson Marçal
Fonte: Canção Nova

Estamos habituados e ver o Natal somente como um encantador Menino que sorri ou chora. E por isso, a única motivação que pode vir é o retorno à inocência verdadeira marcada na infância. Ao contrário, é um fato tremendamente sério e severo, pleno de pobreza e humilhação. É a epifania, ou seja, a presença de Cristo no mundo, próprio neste nosso mundo empastado de problemas e de tragédias. Não nos convida a deixar o mundo, para retirar-nos de um reino utópico criado pela fantasia, mas de buscar e encontrar Cristo no nosso mundo assim como é, não como deveria ser.

Certo dia, o anjo Gabriel foi enviado a uma jovem, chamada Maria, da cidade de Nazaré, para dar-lhe uma boa nova. Ela seria a mãe do filho de Deus. Logo após o anúncio, Maria foi à casa de Isabel, sua prima. Ao chegar, Isabel percebeu que havia algo especial em Maria. Era a presença de Jesus em seu ventre. Maria, por estar tão feliz, desejou que muitas pessoas conhecessem seu filho Jesus, que mudou a sua vida e a da humanidade. Ela canta, então, no seu Magnificat a esperança de uma vida nova, com Jesus, para os que sofrem, os abandonados, aqueles que são esquecidos e para todos os que acreditam em Jesus. Mesmo sem ainda ter nascido, ele era sinal de vida por onde sua mãe passava (cf. Lc 1,47-55).

No tempo do nascimento de Jesus, o imperador Augusto convocou as pessoas para um recenseamento. Maria e José foram a Belém. Quando chegaram na cidade, não encontraram lugar nas hospedarias e foram parar num estábulo. Jesus nasce ali no meio do feno, entre os animais. O nascimento dele contagiou muitas pessoas, até uma estrela foi testemunha, quando Jesus nasceu. Os anjos, cheios de alegria, anunciaram aos pastores o seu nascimento e eles foram depressa até a estrebaria e encontraram o menino, tão pequeno, mas que mudou a vida deles, e ganharam um novo motivo para trabalhar, cuidar dos rebanhos, viver…

Estamos acostumados a ver o Natal apenas como um encantável menino que sorri (ou chora). E então a única motivação que se pode vir é o retorno à inocência verdadeira da infância. Mas esta infância muitas vezes é confundida com uma transferência de sentimentos ou situações confundidas e marcadas ao longo da nossa história. Ou seja, no Natal, queremos nós muitas vezes voltar a ser crianças, no atraente mundo das compras e gastos, onde a desculpa, ou o culpado é sempre o famoso “espírito natalino”.

A primeira coisa que posso dizer, que este espírito natalino não está nas lojas, não está festas, não está na ceia, não esta na roupa nova, ou no sapato novo. Então onde está este espírito natalino, para que o possamos conhecer?

Com certeza ele está no coração de cada um que reconhece que o Natal só terá sentido se for cheio de, primeiramente, gratidão por um Deus que, amando tanto a pessoa humana, se fez pessoa. A gratidão nos leva à um segundo sentimento, a partilha. A partilha não é apenas uma troca de presentes feita no popular “amigo secreto”. Mas é um saber presentar. Não com aquilo que o outro quer, mas com aquilo que o outro precisa. Por exemplo, tem tantas pessoas ao nosso lado, às vezes na nossa própria casa, que muito mais que um par de sapatos novos, precisaria de um abraço de reconciliação. Do sentimento que nos leva à partilha, nasce uma postura, aquela da comunhão. Muitas vezes, no Natal temos mais comunhão com as pessoas que estão conosco nas filas gigantescas das grande lojas, do que com Aquele que realmente nos chama à verdadeira comunhão, que nada mais é que um pertencer a um Outro, e isto experimentamos maravilhosamente na missa de Natal. Esta comunhão com Deus nos convida à uma comunhão com os irmãos.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Vem, Senhor Jesus!

O IMENSO DESEJO pela vinda do Cristo, que caracteriza todo o Advento, se exprime na Liturgia com uma impaciência tanto maior quanto se aproxima do Santo Natal.

"O Senhor vem de longe" (Introito do 1º Domingo Advento). – "O Senhor virá" (Introito do 2º Domingo do Advento). – "O Senhor está próximo" (Intróito do 3º Domingo do Advento)... E esta gradação se acentua cada vez mais. 

Assim começam, no dia 17 de dezembro, as Antífonas Maiores, também chamadas de "Antífonas do Ó" por causa de sua inicial. São um apelo vibrante ao Messias cujas prerrogativas e títulos gloriosos nos declaram.

As Antífonas do Ó são sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento, especialmente de 17 a 23 de dezembro antes e depois do Magnificat na oração das vésperas (por isso são antífonas, ou seja, cantadas antes do canto principal). São assim chamadas porque tem início com o vocativo Ó.
Também são chamadas de Grandes Antífonas (Antiphonae Majores). 
Ainda hoje elas são cantadas nos mosteiros e abadias de todo o mundo, mas também lembradas na liturgia da missa. A reforma litúrgica pós Vaticano II não esqueceu os textos das Antífonas do Ó, veneráveis na antiguidade e atribuídos ao Papa Gregório Magno (+604).
Hoje se utilizam as antífonas na aclamação ao Evangelho durante as missas dos dias feriais que precedem o Natal.
As antífonas do Ó foram compostas entre o século VII e o século VIII, e são uma espécie de resumo da teologia sobre Jesus Cristo, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. O uso do canto gregoriano nas Antífonas do Ó sempre concorda a voz com a Palavra, reafirmando a importância da unidade da celebração, o uníssono da voz de toda a comunidade.
As antífonas expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: “Vinde”. Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento.

Há uma curiosidade no texto latino das Antífonas do Ó: a primeira letra das sete primeiras palavras que seguem o vocativo “Ó”, lida em sentido inverso, equivale ao acróstico ERO CRAS (“Virei amanhã”), um anúncio do próprio Messias aos fiéis no tempo do Advento do Senhor.

São conhecidas como antífonas marianas,  exclamações que a Igreja faz unindo-se  a Maria, maravilhada com o Mistério da Encarnação. São na verdade todas elas Cristocêntricas, se dirigem a CRISTO, plenitude de toda a revelação e cumprimento de toda Escritura.


17 de dezembro
Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência


18 de dezembro
Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.

19 de dezembro
Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais. 


20 de dezembro
Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte.

21 de dezembro
Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte.

22 de dezembro
Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes

23 de dezembro
Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das  nações,
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.

Papa Francisco dá 3 dicas para viver bem o Natal

Poucos dias antes do Natal, o Papa Francisco, em sua oitava visita a uma paróquia romana, convidou a viver as festividades natalinas com mais alegria cristã e menos preocupação com os presentes.
Segundo o Papa, há três maneiras de viver o Natal de maneira digna: rezar, agradecer a Deus e ajudar os outros. “Rezemos nestes dias, demos graças a Deus e depois pensemos: como levar alívio a quem sofre? Ajudar os outros. Assim, chegaremos ungidos ao nascimento de Cristo, o Ungido”, disse Francisco.
É preciso agradecer todas as coisas boas que a vida nos dá, e não viver só se lamentando. O cristão não pode viver assim, com “a cara fechada, inquieto, amargurado. Um santo nunca tem cara fúnebre”, recordou.
Oração, gratidão e caridade: você aceita o desafio do Papa?

sábado, 13 de dezembro de 2014

Conheça a história da santa protetora dos olhos

Fonte: Canção Nova
Santa Luzia (ou Santa Lúcia), cujo nome deriva do latim, é muito amada e invocada como a protetora dos olhos, janela da alma, canal de luz.
Conta-se que pertencia a uma família italiana e rica, que lhe deu ótima formação cristã, ao ponto de Luzia ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família, porém pagão. Ao pedir um tempo para o discernimento foi para uma romaria ao túmulo da mártir Santa Ágeda, de onde voltou com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimento por que passaria, como Santa Ágeda.
Vendeu tudo, deu aos pobres e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Santa Luzia, não querendo oferecer sacrifício ao deuses e nem quebrar o seu santo voto, teve que enfrentar as autoridades perseguidoras e até a decapitação em 303, para assim testemunhar com a vida, ou morte o que disse: “Adoro a um só Deus verdadeiro, e a ele prometi amor e fidelidade”.
Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Ilha da Sicília. A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV.
Mas a devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão (“Luzia” deriva de “luz”), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno, passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter cura nas doenças dos olhos ou da cegueira.
Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo. A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante Alighieri, na obra “A Divina Comédia”, que atribuiu a santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.
Luzia pertencia a uma rica família de Siracusa. Sua mãe, Eutíquia, ao ficar viúva, prometeu dar a filha como esposa a um jovem da Corte local. Mas a moça havia feito voto de virgindade eterna e pediu que o matrimônio fosse adiado. Isso aconteceu porque uma terrível doença acometeu sua mãe. Luzia, então, conseguiu convencer Eutíquia a segui-la em peregrinação até o túmulo de santa Águeda ou Ágata. A mulher voltou curada da viagem e permitiu que a filha mantivesse sua castidade. Além disso, também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era seu desejo.
Entretanto quem não se conformou foi o ex-noivo. Cancelado o casamento, foi denunciar Luzia como cristã ao governador romano. Era o período da perseguição religiosa imposta pelo cruel imperador Diocleciano; assim, a jovem foi levada a julgamento. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304.
Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária. Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

12 de Dezembro - Nossa Senhora de Guadalupe

Fonte: Paulinas
Como toda aparição de Nossa Senhora, a que é venerada hoje é emocionante também. Talvez esta seja uma das mais comoventes, pelo milagre operado no episódio e pela dúvida lançada por um bispo sobre sua aparição a um simples índio mexicano.
Tudo se passou em 1531, no México, quando os missionários espanhóis já haviam aprendido a língua dos indígenas. A fé se espalhava lentamente por essas terras mexicanas, cujos rituais astecas eram muito enraizados. O índio João Diogo havia se convertido e era devoto fervoroso da Virgem Maria. Assim, foi o escolhido para ser o portador de sua mensagem às nações indígenas. Nossa Senhora apareceu a ele várias vezes.
A primeira vez, quando o índio passava pela colina de Tepyac, próxima da Cidade do México, atual capital, a caminho da igreja. Maria lhe pediu que levasse uma mensagem ao bispo. Ela queria que naquele local fosse erguida uma capela em sua honra. Emocionado, o índio procurou o bispo, João de Zumárraga, e contou-lhe o ocorrido. Mas o sacerdote não deu muito crédito à sua narração, não dando resposta se iria, ou não, iniciar a construção.
Passados uns dias, Maria apareceu novamente a João Diogo, que desta vez procurou o bispo com lágrimas nos olhos, renovando o pedido. Nem as lágrimas comoveram o bispo, que exigiu do piedoso homem uma prova de que a ordem partia mesmo de Nossa Senhora.
Deu-se, então, o milagre. João Diogo caminhava em direção à capital por um caminho distante da colina onde, anteriormente, as duas visões aconteceram. O índio, aflito, ia à procura de um sacerdote que desse a unção dos enfermos a um tio seu, que agonizava. De repente, Maria apareceu à sua frente, numa visão belíssima. Tranqüilizou-o quanto à saúde do tio, pois avisou que naquele mesmo instante ele já estava curado. Quanto ao bispo, pediu a João Diogo que colhesse rosas no alto da colina e as entregasse ao religioso. João ficou surpreso com o pedido, porque a região era inóspita e a terra estéril, além de o país atravessar um rigoroso inverno. Mas obedeceu e, novamente surpreso, encontrou muitas rosas, recém-desabrochadas. João colocou-as no seu manto e, como a Senhora ordenara, foi entrega-las ao bispo como prova de sua presença.
E assim fez o fiel índio. Ao abrir o manto cheio de rosas, o bispo viu formar-se, impressa, uma linda imagem da Virgem, tal qual o índio a descrevera antes, mestiça. Espantado, o bispo seguiu João até a casa do tio moribundo e este já estava de pé, forte e saudável. Contou que Nossa Senhora "morena" lhe aparecera também, o teria curado e renovado o pedido. Queria um santuário na colina de Tepyac, onde sua imagem seria chamada de Santa Maria de Guadalupe. Mas não explicou o porquê do nome.
A fama do milagre se espalhou. Enquanto o templo era construído, o manto com a imagem impressa ficou guardado na capela do paço episcopal. Várias construções se sucederam na colina, ampliando templo após templo, pois as romarias e peregrinações só aumentaram com o passar dos anos e dos séculos.
O local se tornou um enorme santuário, que abriga a imagem de Nossa Senhora na famosa colina, e ainda se discute o significado da palavra Guadalupe. Nele, está guardado o manto de são João Diego, em perfeito estado, apesar de passados tantos séculos. Nossa Senhora de Guadalupe é a única a ser representada como mestiça, com o tom de pele semelhante ao das populações indígenas. Por isso o povo a chama, carinhosamente, de "La Morenita", quando a celebra no dia 12 de dezembro, data da última aparição.
Foi declarada padroeira das Américas, em 1945, pelo papa Pio XII. Em 1979, como extremado devoto mariano, o papa João Paulo II visitou o santuário e consagrou, solenemente, toda a América Latina a Nossa Senhora de Guadalupe

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Três testes para viver conectado sem perder a paz

Fonte: Aleteia

Ultimamente, tenho pensado muito no tema dos celulares e da internet, das redes sociais e dessa necessidade do homem moderno de estar continuamente conectado. E vejo que o celular está tão presente na minha rotina, que é difícil pará-lo.

Na minha geração, não havia celulares quando éramos jovens. Só podíamos falar usando um telefone conectado a um fio. As mensagens tinham tinta e papel e demoravam muito para sair e para chegar. Ter muitos amigos não era possível, porque não tínhamos tanto acesso a gente diferente.
Nos nossos aniversários, só alguns nos davam os parabéns, pessoalmente ou por carta. Por outro lado, também não era preciso lembrar de todo mundo e dar os parabéns a todos. Não mantínhamos contato assíduo com tanta gente.

Uma ligação internacional era muito cara, sobretudo a partir do terceiro minuto.

Ninguém, ao enviar uma carta, esperava uma resposta imediata. Não havia forma de saber se a pessoa havia lido ou não. E, se você fosse chegar tarde a um encontro, não havia maneira de avisar.

Você não ia para a cama com o telefone fixo. Saía para passear totalmente sem comunicação. E ninguém tinha como localizar você. Era tudo mais complicado.

Acostumar-se com a tecnologia requer tempo. De repente, carregamos um computador no bolso, que continuamente emite sinais e nos convida a estar em comunicação. E nos assusta parar de usá-lo.

Perdemos certa capacidade de isolamento. Qualquer um pode nos encontrar. E agora é mais difícil concentrar-nos em nossos pensamentos, ou simplesmente olhar para as estrelas, sonhar acordados, sem interferências. Como é difícil trabalhar ou estudar com o celular perto!

Definitivamente, não queremos voltar ao passado. Nem podemos. Mas podemos aprender a viver conectados, localizados, como muitos amigos, mais relacionamentos.

Podemos aprender a conviver com isso. Saber fazer silêncio em meio ao barulho. Paz e solidão em meio ao ruído dos vínculos.

Apresento três sugestões simples, que podem servir também como teste ou desafio para quem quiser aprender a lidar melhor com atecnologia, sem ser refém dela:

1. Ignorar as mensagens urgentes que pedem resposta imediata. Deixar, de vez em quando, algumas mensagens sem responder, sem peso na consciência. Aceitar que é impossível responder a todas as expectativas que as redes sociais criam.

2. Não nos deixar levar por essa dependência das novidades, das últimas notícias.

3. Descansar em uma pedra do caminho sem pensar em nada. Ficar tranquilos de vez em quando, se um celular na mão. Sair na rua sem telefone, só para fazer um teste e comprovar se o mundo continua funcionando bem sem a minha presença.

Vantagens e perigos

Toda esta reflexão me oferece mais perguntas que respostas. Vejo muitas vantagens em tudo o que está ao nosso alcance agora.

Podemos cuidar melhor dos que estão longe e manter relações que antes morriam por inanição. Estamos por dentro do que acontece no mundo e isso nos mantém vivos. Compartilhamos nossa vida e isso enriquece outros. São vantagens incríveis que nos fazem crescer.

Mas também há perigos. Podemos secar. Como em toda dependência, podemos perder liberdade. Tendo a cabeça inclinada todos os dias, podemos deixar de olhar para cima, abertos aos imprevistos.

Corremos o risco de descuidar precisamente dos que estão mais perto, da nossa família, daqueles de quem poderíamos cuidar simplesmente conversando um pouco. O telefone pode nos isolar e afastar-nos dos que vivem ao nosso lado.

Podemos deixar de falar com Deus. E esquecer o que significa estar realmente a sós com Ele.

Por que devemos aprender a silenciar

Fonte: Blog Felipe de Aquino
“Há quem se cala por não saber falar, e há quem se cala porque reconhece quando é tempo de falar”(Eclo 20,6)

Note como Deus fez a natureza silenciosa, calma e produtiva. Não sentimos e nem vemos a planta crescer, mas cresce sem cessar, no silêncio. Uma floresta inteira cresce sem fazer barulho. É no silêncio que a natureza produz suas maravilhas: a flor que se abre, a borboleta que deixa o casulo, a fruta que amadurece, a criança que se desenvolve, as trilhões de estrelas que brilham… A natureza não tem pressa.
Tudo acontece no silêncio, como numa bela sinfonia. É por causa do silêncio que tudo existe: a música surge do silêncio; a arte nasce dele; a inspiração, a poesia e a bela música, surgem no silêncio; nós a escutamos porque fazemos silêncio; e ela vai além de nós. Onde cessa a fala começa a música.
Quem se arrisca a falar sem aprender no silêncio, se arrisca a ensinar coisas erradas. O autor da “Imitação de Cristo”, o monge Thomas de Kemphis, disse que “ninguém fala com segurança, senão quem sabe se calar.” A sabedoria nos vem da meditação e da oração, e essas duas realidades só podem acontecer no silêncio. O silêncio dos homens às vezes está mais perto da verdade do que suas palavras.
Os homens se gastam tanto em palavras que não entendem o silêncio de Deus. Ele fala no silêncio. É na medida que a alma recebe no silêncio, que ela dá na atividade. Madre Teresa de Calcutá disse que: “Quanto mais recebermos do silêncio da oração, mas nos entregamos a uma vida ativa. Temos necessidade do silêncio para tocar as almas.”
O religioso que não aprendeu a silenciar, meditar e rezar, acaba caindo no ativismo doentio e frustrante. Ele pode até semear com abundância, mas a semente é estéril, não germina.
É tão rara a paz divina nos corações dos homens porque não sabem encontrar-se com Deus na própria alma, em silêncio. E ninguém toca os corações dos homens e enriquecê-los, sem primeiro abastecer-se a si mesmo, por uma vida interior em Deus, no silêncio. Para serem ajudados espiritualmente, os homens não precisam de simples homens, mas de “homens de Deus”. Somente aqueles que são fortes pelo contato com o “Hóspede da alma”, podem ir sem receio e firmes ao encontro das criaturas para socorrê-las, nos ensina Raul Plus.
Jorge Duhamel queria criar o “Parque nacional do silêncio”. Infelizmente nossa era de máquinas não nos deixa apreciar o silêncio, e nosso coração fica cansado porque não entra em si mesmo.
O amor se exprime mais pelo silêncio do que pelas palavras. É sabedoria saber se calar até o tempo certo de falar. André Maurois disse que os homens temem o silêncio como temem a solidão, porque ambos lhes dão uma visão do terrível vazio da vida. Mas esse vazio só pode ser preenchido, quando, no silêncio e na meditação, encontramos a sua causa e nos fortalecemos para superá-lo. Ele é o remédio que o homem moderno não compra nas farmácias.
Muitos se agitam no mundo e quebram o precioso silêncio. Pois bem, há um provérbio alemão que diz que: “A melhor resposta à cólera é o silêncio”. Voltaire avisava aos cortesãos do rei francês que, “na corte, a arte mais importante não é a de falar bem, mas a de saber calar-se.”
O fato do silêncio ser de ouro explica porque ele é tão raro. A Palavra de Deus diz que: “Há quem se cala por não saber falar, e há quem se cala porque reconhece quando é tempo de falar”(Eclo 20,6).
Ghandi ensinava que o silêncio faz parte da disciplina espiritual de um seguidor da verdade. “Sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio”, dizia. Alguém observando um surdo-mudo disse que ao lado dele é que se percebe como são poucas as palavras que merecem ser ditas.
Prof. Felipe Aquino

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Advento: novo despertar

Fonte: Catequese hoje

“Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo” (Mc 13,36) 

Estamos iniciando um Novo Ano litúrgico. Começamos com o Advento, que não é somente um tempo litúrgico, mas toda uma atitude vital que atravessa toda nossa existência. Sempre há o risco de vivê-lo como “mera repetição”, como um “tempo parecido” com o tempo anterior.
Não entenderemos a mensagem de Jesus se ela não nos motiva a viver em continuo e criativo Advento. Cada Advento é único e original, pois já não somos mais os mesmos: passamos por contínuas mudanças, amadurecemos mais, estamos vivendo problemas e desafios diferentes, acumulamos experiências... Deus também não se repete; Ele se aproxima de cada um de nós com um novo olhar e um novo apelo. Ele quer suscitar vibrações novas em nossas vidas e sua Presença instigante desperta em nós o grande desejo de entrar em sintonia com o Seu coração. Novo tempo, que pede de nós amplitude de visão e sensibilidade. 
“Ficai despertos!” “Vigiai!” “Tende os olhos abertos!”: são apelos para o início deste Advento. A chave do relato do Evangelho de hoje está na atitude dos servos. Para provocar essa atitude, Jesus nos fala da chegada inesperada do dono da casa. Deus é Aquele que sempre está vindo. Ele é “o que vem”. Se passamos a vida adormecidos, nada acontece. Isto é o que deveria nos dar medo: poder transcorrer nossa existência sem ativar as possibilidades de plenitude que nos foram dadas. Mas não basta ter os olhos abertos; é preciso ampliar a visão para além de nossos pequenos interesses e preocupações; precisamos também de mais luz. 
Despertar é simplesmente abrir nossos olhos, cada dia, à luz que provém de Deus e confiar que tal luz transforme nossa maneira de ver; é preciso deixar que esta luz ilumine nossas sombras interiores, desvelando e trazendo à tona nossas aspirações e esperanças mais duradouras. Abrir os olhos à luz de Deus e escutar atônitos, fascinados, a voz divina que cada dia ressoa em nosso interior. Trata-se de estar despertos para assumir a vida com uma consciência lúcida. O amor, a inspiração, a vida, nos movem por dentro. Tudo o que esperamos já temos dentro de nós. Um dinamismo misterioso nos abre e nos atrai, nos impulsiona a ser, a viver. Basta “destravar” este impulso e nos deixemos levar.
Advento é tempo que nos convida a abrir os corações, escutar o Espírito e pôr-se a caminho, enquanto “a luz da vida” nos ilumina. 
É preciso despertar e ativar um fogo novo em nosso interior; há algo importante, essencial na vida humana que ainda está adormecido; há uma dimensão existencial profunda onde é cada vez mais difícil a inteligência e a vontade terem acesso.
Hoje o ser humano está desperto por fora, mas por dentro revela um coração descontrolado, sacudido entre forças de gravidade que ora o arrastam para o exterior, o imediato e a superficialidade, ora despertam a experiência de um desejo interior com uma forte nostalgia de vida, de paz, de plenitude...
A humanidade quer viver. O coração humano precisa escutar este desejo, não só como sede de terra seca, mas como uma palavra de vida, como o rumor de uma fonte de água viva. Talvez ele precise colocar outro ritmo em sua existência, que lhe permita estar atento e à escuta das surpresas que a vida desvela. 
O Advento constitui também um tempo habitado; é um tempo de espera, de paciência, de confiança em Deus que não só se revela na história, mas também na temporalidade. Deus é o que marca o ritmo do tempo, é Aquele que tem a iniciativa. Ao ser humano lhe corresponde estar atento aos movimentos do Espírito e dos acontecimentos. Mas é um tempo de espera ativa.
Acolher os momentos de Deus é estar preparado para o mais “inesperado”.
A dinâmica da espera inclui a surpresa. Esta certeza forma parte central da experiência da fé. Brota uma certeza: o esperado, quando chega, ultrapassa sempre o que se espera. Pede ser esperado em gratuidade, sem pressas, sem ansiedade, porque sabe que tudo é dom e graça. 
Esperar é uma forma de viver. Esperar é ser fiel ao dinamismo profundo da vida, deixar-se levar simplesmente pelo Espírito que nos habita, o Espírito que tudo une e liberta, que tudo move e atrai. A espera, quando é carregada de amor e presença, faz crescer e conhecer regiões do coração até então desconhecidas e inexploradas. 
“Despertar” também nos abre a uma sintonia, a uma relação profunda, com o universo que nos envolve, com os outros com quem convivemos, com o Criador que tudo sustenta. Poderíamos nos perguntar: o quê nos pede Deus em cada acontecimento e em cada situação da vida. 
Esta é a maneira de entender e viver uma espiritualidade aberta a um “Deus sempre surpreendente”, sempre novo. Um Deus de quem tudo procede, que habita nas criaturas, que trabalha por nós, que desce às nossas vidas e aos nossos tempos. Isto é contemplação, e que faz toda a diferença: talvez não transforme de imediato as dificuldades, os desafios, uma situação dura, mas, pode sim mudar a textura de nossos corações, a qualidade de nossas respostas, a profundidade de nossos sentimentos e pensamentos.
O tempo do Advento nos oferece uma oportunidade única de aprender a esperar e fazer da esperança nossa condição existencial. Somos, na medida que esperamos. Somos aquilo que esperamos ser. Por isso, o Advento pede vincular esperança e responsabilidade, justamente para dar mais consistência humana e maior sentido a esse futuro que está aberto à nossa frente, carregado de motivações e inspirações.
O ser humano pode esperar o que quiser, mas não pode esperar qualquer coisa. É preciso ter os olhos bem abertos para “ver” e acolher o que acontece ao nosso redor: as alegrias e os sofrimentos daqueles que nos cercam, as esperanças dos povos que estão mais além de nossas fronteiras, muitas vezes em situações dramáticas, os sonhos de tantos que buscam um mundo mais fraterno, livre e justo... 
Viver conectados, em redes, unidos, entrelaçados, para potenciar a esperança e a vigília, iluminando-nos uns aos outros, despertando sonhos e buscando soluções alternativas, ressuscitando as aspirações profundas, vivendo continuamente comprometidos com outro mundo mais fraterno e justo. Vigiemos, observemos, abramos os olhos a “outra realidade” que já está presente nas entranhas da nossa própria cotidianidade. Advento é indicar e ativar a “nova vida” que quer se fazer visível. 
O dia esperado está começando. Estamos apenas na aurora, mas os primeiros raios trazem a suavidade que enche o nosso coração. Resta-nos a esperança; com ela, damo-nos as mãos, colocamo-nos a caminho. Como Maria, tenda humilde do Verbo, podemos nos converter em pessoas de esperança, abertas à novidade do Espírito, que espreita oculto nas dobras de nossa história. Podemos chegar a ser sentinelas do amanhã.

Texto bíblico: Mc 13,33-37 

Na oração: o que o faz permanecer adormecido, alienado da realidade e incapaz de “ler” os sinais d’Aquele que vem vindo? 

Como se situa diante dos desafios que você é chamado a enfrentar? Não se sente cansado, desanimado ou sem esperança por já ter vivido tantas mudanças? Ou talvez desanimado porque as coisas não aconteceram como havia previsto? Ou, ao contrário, cheio de energia, entusiasmado por ser protagonista de uma época considerada de graça e de bênção?

Pe. Adroaldo Palaoro sj - Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI